Sobrenatural na Copa

Ruy Castro – Folha de São Paulo

Aquiles, o gato vidente, prepara-se para adivinhar tudo

Talvez por se passar na Rússia, cuja maestria em descobrir, esconder e misturar informações quase enlouqueceu as outras potências no século 20, esta Copa do Mundo promete lances tão empolgantes fora quanto dentro do campo. Muitos envolverão apostas milionárias quanto ao resultado das partidas, levando em conta informações exclusivas sobre treinos táticos, condição física dos jogadores e o ambiente dentro desta ou daquela delegação. Grande parte do dinheiro nessas apostas dirá respeito à compra ou venda de informações que possam influir no resultado de um jogo.

Quando se trata de analisar uma informação, todas as variáveis têm de ser consideradas. Uma das variáveis nesta Copa serão as predições de Aquiles, o gato oficialmente reconhecido pela Fifa como vidente para antecipar os vencedores das partidas mais importantes. Aquiles é um gato russo, adulto, de pelo farto e branco e com cara de quem está levando a sério sua atribuição. Na manhã de cada jogo para que for escalado, será chamado a escolher entre duas vasilhas de ração representando os países que se enfrentarão.

Imagine agora se, em segredo, forças ocultas dentro da Fifa —e o que não faltam na Fifa são forças ocultas — submetem Aquiles às vasilhas de ração na véspera do jogo e ficam sabendo sua predição antecipadamente. Quanto não valerá isto no mercado clandestino?

Você talvez esteja achando ridícula essa ideia —como atribuir poderes psíquicos a um gato diante de um prato de comida? Eu próprio, incréu de carteirinha, poderia ser levado a pensar assim. Mas desde a performance do polvo Paul na Copa de 2010, acertando o resultado das sete partidas a que foi desafiado, aprendi a lição. Quando se trata de futebol, o sobrenatural pode ser tão decisivo quanto um 4-3-3 ou um 4-3-1-2. 

E se um polvo, que não passa de uma gelatina com pernas, pôde fazer bonito, do que não será capaz um gato?

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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