Amplos detalhes sobre o livro e o trabalho do nosso Toninho Vaz (trabalhou comigo na antiga Voz do Paraná, começo dos 1970) estarão hoje na CBN, às 11h30 min, em rede nacional, na entrevista que ele dará a Lúcia Hipólito.
SOLAR – LEMINSKI
O livro de Toninho (que a pintora Leila Pugnaloni recebeu em primeira mão, entre curitibanos) é muito mais do que retrato de um tempo. Pelo que li, e do que depreendo da apresentação de Ruy Castro, é radiografia de todo um momento especial do Rio de Janeiro. Radiografia tirada a partir daquele grande viveiro de valores humanos que dividiam espaço no endereço.
No lugar do “Solar” surgiu, nos meados dos 1970, um shopping, próximo ao Túnel Novo, em Copacabana.
Não era uma pensão. Mais se assemelhava ao antigo “Sing-Sing”, que tivemos em Curitiba, anos 1960/70, na Carlos de Carvalho, área central. Não era hotel, encaixava-se como “casa de cômodos” com uma centena de quartos, pontuada por paisagem bonita, morro ao fundo, entre Botafogo e Copa.
Para mim, que o conheci em 1967, quando fui repórter no Diário de Notícias, no Rio, sempre foi uma “incubadora de valores” humanos. Por lá passaram e deram substância particular àquele espaço nomes como Paulo Leminski, Leila Diniz, Caetano Veloso, Wellington Moreira Franco, Wilson Bueno, Paulinho da Viola, Ricardo Villas, Ítala Nandi, Maria Gladys, Abel Silva, Naná Vasconcellos, Milton Nascimento, Hélio Oiticica, Capinam, Marieta Severo, Gilberto Gil, Macalé, Hugo Carvana, Arduíno Colasanti. Sem contar os “passageiros”, como o policial-bandido Mariel Mariscott, da escuderia Le Cocq.
Leminski lá começou a escrever “Catatau”.
Outro paranaense que foi personagem valiosa do mundo artístico-cultural e habitante do “Solar da Fossa” foi Adelson Alves, radialista, produtor musical, grande apoio e companheiro por anos de Clara Nunes.
Antonio Martins Vaz: arqueologia de um tempo criativo
Um trabalho de levantamento de tipos psicológicos e da a fauna que habitava o “Solar”, o livro faz arqueologia (a partir deles) de uma fase de nossa história. Eram tempos pré e imediatamente pós AI-5. Dias sem paralelos na História do Brasil.
Por isso, digo sem medo: a obra de Martim Vaz é de referência. Não tenho receio em citar que a imersão que a Toninho faz naqueles “dies irae”, dias da ira, descobre a arqueologia de vidas e obras. Nesse desfilar de depoimentos e reconstrução de um tempo, Toninho entrega a pesquisadores de todos os portes (acadêmicos, especialmente), um material que, no fundo, no fundo, só quem tem muito treinamento em jornalismo acaba fazendo com tamanha amplidão.
Lançamento em Curitiba no dia 9, às 19h30, na Livraria Curitiba, Shopping Estação.
Haroldo Murá|Jornal Indústria & Comércio