Sou, mas quem não é?

PORTAIS de notícias e blogs de oposição divulgam a viagem do ministro Kássio Marques para assistir a Champions League. Ele foi de carona em jatinho de advogado que tem causas no STF e depois esticou a Mônaco para ver a Fórmula 1. No Congresso, nada, nada nos jornalões, e na televisão o silêncio tumular. Num país que cultuasse o rigor das aparências, seria um escândalo. No Brasil, não, pois aqui vale a filosofia do político desonesto de Chico Anísio: “Sou, mas quem não é?”

O brasileiro, alguém lembrou ontem na imprensa, sofre de analgesia moral, a insensibilidade e a indiferença à moralidade pública. A conduta do ministro não choca seus pares, acima de tudo estes, nos quais o problema respinga em termos de credibilidade do tribunal e biografias pessoais; aqui impera o sentimento de casta, de superioridade, de inatacabilidade, que os magistrados cultivam; eles julgam, mas não toleram ser julgados. Fazem os desentendidos de que no órgão colegiado o pecado de um macula a todos.

Nem os pares, por quê? Ora, porque os pares fazem o mesmo, há antecedentes e literatura de sobra. O ministro pode ser bolsonarista e muitos dirão que seu comportamento é bolsonarista. Mas o problema não é este. Ele é só o mais recente personagem da novela da impunidade, da imprudência e da impudência dos homens públicos. Impudência é falta de pudor, cara de pau. E seu homógrafo com ‘r’, a imprudência, está em falta no vocabulário dos homens públicos.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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