Sozinho e brigão

A vida familiar de Jonas não era nada tranquila. Primeiro, porque ele não tinha mais família. Era só no mundo. Segundo, porque, se tivesse família, teria inventado muitos motivos para se desentender com cada membro dela. Por temperamento e formação, Jonas era bem brigão.

Sendo assim sozinho e brigão, ele se tornou mal visto por todos os vizinhos. Isso logo se tornou insustentável e ele teve seguidos entreveros com eles — por qualquer coisa tinha briga. Como esses vizinhos também tinham outros vizinhos, a notícia das brigas logo se espalhou e eles foram tirar satisfações com Jonas. Dessa maneira, as porfias foram se estendendo por todo o quarteirão, depois pelo bairro, por outros bairros e, por fim, pela cidade inteira.

Jonas conseguiu dar larga vazão ao seu temperamento desequilibrado e ficar ainda mais só.

Com a cidade contra, Jonas resolveu se mudar para a cidade vizinha e, uma vez lá, sentiu logo que sua fama o precedera. Foi encarado por diversas pessoas e isso se transformou em séria rixa. As discussões acaloradas chamaram a atenção de outros e mais outros moradores. Todos se envolveram nas pendengas e exigiram o afastamento de Jonas. Ele fazia pé-firme e enfrentava todos.

Assim, Jonas foi indo de cidade em cidade e depois para outros estados — sem deixar de percorrer todas as cidades de cada um — provocando a ira dos moradores e ficando cada vez mais só.

Por fim, contabilizou cento e oitenta milhões de inimigos no país. Sem outra saída, tentou tirar passaporte para deixar o país. Por costume arrumou encrenca devido às exigências para fazer o documento. Sem poder sair do país, ele voltou para sua cidade natal — para a mesma casa no mesmo bairro. O bairro havia crescido e abrigava muitos novos moradores. Logo que chegou, ele se desentendeu com o síndico de um prédio novo por causa das crianças que brincavam e faziam algazarra no parquinho.

*Rui Werneck de Capistrano começou tudo de novo.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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