STF fala demais

O comportamento dos ministros do STF dá pouca esperança ao Brasil de contar com este tribunal para manter um equilíbrio que ajude no encontro de um caminho mais organizado e produtivo para este desconsolado país.

O STF ficou muito parecido com esses programas de rádio onde junta-se uma porção de gente conversando fiado sobre os acontecimentos, cada um tentando dar sua lacradinha para fazer sucesso nas redes sociais.

Bem, se for avaliar com o rigor necessário as intromissões indevidas de várias figuras da nossa mais alta corte na vida nacional, a verdade é que se fizessem como youtubers ou escrevendo no Twitter o que fazem como juízes, há muito tempo já teriam tido suas páginas canceladas.

E nem cabe fazer juízo de valor quanto ao teor político de cada opinião, pouco me interessando também se uma ou outra apreciação está de acordo com o que eu penso.

O que importa é a impropriedade de juízes dando opinião o tempo todo, sobre qualquer assunto, em contradição com a função pública que exercem e se metendo em questões fora da sua competência.

A verdade é que juiz brasileiro fala demais. Não se vê isso na França ou na Alemanha, nem mesmo na Itália, com sua cultura nacional aparentemente mais aberta à emoções descontroladas.

Esse é o tipo de coisa que não se vê nem na Espanha, que hoje em dia está diante até mesmo de um acirrado debate sobre a unidade nacional, com forças a favor do separatismo. Juízes não se metem a opinar em meio ao bate-boca às vezes violento da política espanhola.

Não se vê isso mesmo nos Estados Unidos, onde poucos meses antes da insana invasão do Capitólio feita por seus seguidores e atiçada por ele, Donald Trump havia nomeado a juíza Amy Barrett para ocupar uma cadeira na Suprema Corte do país.

A juíza tem um histórico de posições de direita, combinando muito bem com bandeiras políticas reacionárias exploradas eleitoralmente por Trump.

Porém, AmySTF fala demais Barret não opinou sobre a invasão. Nem ela ou qualquer outro juiz se meteram nas polêmicas criadas por Trump, nas suas maquinações para tentar reverter a derrota para Joe Biden.

Numa situação parecida no Brasil é óbvio que apareceriam juízes da Suprema Corte apoiando as manipulações do então presidente americano ou opinando a favor dos democratas.  Nossa mais alta corte tem boquirrotos além do suportável. É um STF que fala demais. E este vozerio vem sufocando seu papel jurídico e constitucional.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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