Raro o dia em que, ao ler os cadernos de esporte, não fico sabendo de uma jovem revelação do futebol brasileiro, um meia ou atacante, que não esteja sendo pretendido por um grande clube europeu, mesmo que seja o Wolverhampton Wanderers ou o Borussia Mönchengladbach. E a surpresa não se refere à idade do craque —12 ou 13 anos. É porque os ingleses ou os alemães estão discutindo a contratação com o estafe dele.
A palavra, oriunda do inglês “staff”, já consta do Aurélio e significa “grupo qualificado de pessoas que assistem a um chefe ou dirigente”. Diante disso, imagino uma mesa de reuniões em cuja cabeceira se senta o fraldinha subsub e, nas laterais, quatro senhores graves e qualificados discutindo a proposta de x ou y milhões de euros e se ela será mais conveniente para um empréstimo ou por um contrato definitivo.
A ideia de que um garoto de 12 ou 13 anos já disponha de um estafe é deliciosa. Com essa idade, em outros tempos, ele estaria lendo gibis do Pinduca ou do Bolinha, não propostas de contratos. E não faria diferença que fosse o artilheiro do time de pelada da sua rua. Com essa idade, o próprio Pelé ainda estava trancado no banheiro em Bauru com um catecismo do Carlos Zéfiro que lhe fora emprestado por um colega mais esperto, não considerando se seu destino seria a Premier League ou a Bundesliga.
Eu sei, vivemos tempos mais profissionais. Eu, por exemplo, nos anos 60, tive de esperar até os 19 anos para ser admitido como repórter num grande jornal, o Correio da Manhã, do Rio, e mesmo assim para trabalhar de graça. O pior é que desde os 12 ou 13 eu já daria conta do que passei a fazer aos 19, exceto pelo fato de que, com aquela idade, meu pai não me deixaria ir tarde da noite aos pronto-socorros e delegacias que às vezes tinha de cobrir.
Quem me mandou ficar espremendo espinhas em vez de contratar um estafe para cuidar de mim?