Em menos de um mês, a coletânea Toda Poesia, que reúne a obra poética do escritor paranaense Paulo Lemisnki, esgotou três reimpressões e galgou espaço na lista dos mais vendidos, há algum tempo ambiente rarefeito para a poesia nacional.
Lançado em março, Toda Poesia reúne seis livros publicados e alguns poemas esparsos. Embora, estranhamente, lime do trabalho ilustrações e fotos de obras lançadas em colaboração com outros artistas, reúne tudo o que já saiu em livro da poesia de Leminski (1944 – 1989). De acordo com a editora, com as três reimpressões, o livro se encaminha para vender 19 mil exemplares. Não que seja estranho pensar em Leminski como best-seller. Lançados um a um, seus livros foram sucessos de venda quando editados pela Brasiliense – e o fato de as reedições de suas obras haverem sido interrompidas ainda nos 1990 ajudou a transformá-las em raridades. Antes de ser incorporado nesta nova edição, Caprichos & Relaxos, seu livro de 1983, podia ser encontrado custando preços de três dígitos na Estante Virtual.
– Depois que ele morreu, e a Brasiliense enfrentou problemas devido à morte do Caio Graco Prado (editor), as obras ficaram trancadas no catálogo da editora, sem reimpressão. O fato de agora um livro reunindo seus trabalhos estar sendo tão vendido mostra que havia uma demanda reprimida pela poesia do Leminski – comenta o poeta Ricardo Silvestrin.
Apesar da persistência de uma ideia preconcebida de que poesia não vende ou não é comercialmente viável, esse entendimento não é de todo preciso. A poesia de grandes nomes da literatura nacional vem sendo há anos alvo de disputas de passe cada vez mais comuns no mercado editorial do Brasil – hoje composto por grandes conglomerados, muitas vezes com ramificações internacionais. Carlos Drummond de Andrade vem tendo sua obra integral reeditada pela mesma Companhia das Letras que hoje publica Leminski. Mario Quintana teve sua obra reembalada pela Alfaguara, que arrematou seu catálogo, antes nas mãos da Globo. A poesia já canonizada e referendada pelo tempo de algum modo encontra e agrada o público. Uma coleção extremamente popular de livros de bolso, como a da gaúcha L&PM, tem obras de poetas entre seu top 10 de vendas, como Fernando Pessoa e Pablo Neruda.
Estaria, portanto, Leminski no ponto para assumir algo que ele próprio veria com certo desdém, um lugar no cânone? Talvez não. Um dos motivos pelos quais Toda Poesia obviamente está vendendo a rodo é o interesse pelo trabalho do autor, que pode ser explicado pela própria linha de atuação do poeta. Com uma obra que casava influências orientais, a tradição religiosa do cristianismo e o que de mais quente havia em teorias semióticas do período, Leminski criou uma poesia que teve sucesso em manter o aspecto lúdico do confronto com a linguagem. E essa característica sempre foi muito popular entre seus leitores, especialmente os jovens, para os quais Leminski nunca deixou de ser pop.
– A obra do Leminski é uma feliz combinação do erudito, normalmente camuflado, e do popular. E ele percebeu que não chegamos ao grande público se ele não for capaz de oralizar o que fazemos. Acho que Leminski se aproximar dos jovens é um convite aos poetas no sentido de darem mais atenção aos elementos orais, verbivocais, esses aspectos tangíveis da palavra – analisa o poeta Armindo Trevisan.
Toda Poesia|Paulo Leminski|Poesia. Editora Companhia das Letras, 424 páginas, R$ 35 (em média).