Sutil

Em meio à mediocracia febril que grassa feito uma peste, no cinema e nos palcos tupiniquins, um e outro marcados pela estética chapada do “Oscar-American-Movie”, a curitibaníssima Sutil Cia. de Teatro emplaca 15 anos. Sem concessões ao besteirol desde a primeira montagem e respeitável contribuição à cena cultural brasílica. Oh, yes, já temos teatro de que nos orgulharmos no Paraná. Calai-vos autofágicos de plantão, calai-vos! O cinema nacional, salvo as exceções de praxe, animado por uma sanha bilheteira sem pudor de levar a TV à tela grande nem que isto custe o que um dia se chamou “arte cinematográfica” e o teatro a carrear estreletes de todos os naipes aos palcos…
Até o genial Mazzaropi deve estar a se mexer, incomodado, na cova. Não duvidem.
Há pouco tempo, sabemos, o teatro dito paranaense (vá lá, mesmo com o horror que nutro a esses “localismos”…) resumia-se ao meu amigo Ary Fontoura, a Lala Schneider e a Odelair Rodrigues. Heróicos, claro, os saudosos Gemba e Kraide, entre outros. Mas teatro cá nas araucárias, como já disse uma vez, só matando…
Não é de hoje que podemos falar de uma tradição literária curitibana, mas teatro, gentil leitor, melhor deliciar-se com as palhaçadas dos Queirolo em seus circos que moram na alma profunda dos meninos que fomos na Curitiba d’antanho.
Nunca esquecerei de A escrava Isaura, encenado pelo Circo Queirolo, os atores polacos maquiados a carvão, luzentos os olhinhos azuis a encarnar o “drama” na esquina da Saldanha com a Visconde de Nácar… Na Pça. Rui Barbosa, depois, o teatrinho de Bolso e as longas filas para ver Ary Fontoura em carne e osso.
Ô vida! Ô Tempo, este deus que não dorme! Mas tinha que acontecer um dia. Assim como a literatura feita no Paraná funda-se, no início do século XX, com Emiliano Perneta, Daryo Vellozo, Emílio de Menezes, o teatro que aqui fazemos vai encontrar sobretudo em Felipe Hirsch e no monstruoso talento de Guilherme Weber a sua hora e vez.
Recente como a adolescência de nossos filhos, a Sutil Cia. de Teatro é hoje uma referência na dramaturgia brasileira. A exemplo de Dalton Trevisan e Leminski na moderna literatura pátria. Embora ambos, Teatro e Letras, não sejam “paranaenses” no sentido limitado, localista, que se dá ao termo, têm tudo a ver com a Curitiba onde nos assistimos a viver a vida alguma vez inóspita.
Chove muito nas peças da Sutil, neblina e chove nos textos antológicos de Trevisan, e a chuva dissolve culpas e desenganos nos poemas do eterno Lema. O espaço é curto e da natureza da crônica a brevidade, mas tudo o que aspiramos é vida longa, muito longa, à gloriosa Sutil e sua trupe.
Wilson Bueno (15/3/2009) O Estado do Paraná.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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