Svengali de si próprio

lulilmaFoto de Joe Trujeitto

Certa vez, Nelson Rodrigues definiu a pessoa absolutamente só como um “Robinson Crusoé sem radinho de pilha”. Mas Dilma Rousseff está pior do que Robinson –abandonada até por aqueles que, no dia seguinte à sua reeleição, ainda lhe faziam rapapés. Não será surpresa se, em breve, não tiver sequer um contínuo para lhe levar cafezinho.

O eleitorado a abandonou porque descobriu que ela mentiu –o país que ela descreveu não existia. Os sem-terra, sem-teto e sem-ética também a abandonaram porque acham que ela os traiu. O PT, idem, porque as duras medidas econômicas que ela precisa tomar para tapar os buracos que seu governo abriu atingem a massa trabalhadora, o que deixa mal o discurso do partido. E o próprio Svengali que a inventou, o ex-presidente Lula, já está lhe mostrando a língua, embora, por enquanto, delegue a função de atacá-la ao seu pajem, o senador Lindbergh Farias.

O que me pergunto é se Dilma foi a única autora do programa de seu primeiro governo, que quase quebrou o país, dos pronunciamentos triunfalistas que fez à nação naqueles quatro anos e das promessas eleitoreiras que conduziram à sua segunda vitória. Não consigo visualizá-la sentando-se a um computador, hesitando por alguns segundos diante da tela em branco e finalmente pondo-se a escrever os projetos de lei, medidas econômicas e material de propaganda.

Quero crer que as decisões estratégicas de Dilma 1, os textos de suas mensagens delirantes e as mentiras de campanha tenham sido pensados, escritos, revistos e aprovados por seus auxiliares diretos no governo –companheiros de partido–, os quais nunca tomariam iniciativas que discordassem das orientações do líder maior, que é Lula.

Donde, se Dilma fracassou, quem é o responsável? Hoje parece claro que Lula só deu certo como o Svengali de si próprio.

Ruy Castro – Folha de São Paulo

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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