Tabata Amaral e o PDT de Ciro Gomes próximos da separação

Acabou rápido o sonho de uma renovação política do PDT, com o destaque conquistado pela deputada Tabata Amaral com seu discurso progressista mais arejado e de uma sensatez política que faz tempo que não se via na esquerda. Tabata pode ser expulsa do PDT por ter votado a favor da reforma da Previdência nesta quarta-feira. Os caciques do partido parece que não compreendem que a perda também é de caráter simbólico.

A deputada estabelecia uma relação de empatia com a opinião pública e especialmente com a juventude. O eterno candidato a presidente Ciro Gomes também terá prejuízo político com esta expulsão. Por sinal, este impasse com o posicionamento da figura que na visão de muitos era uma revigorada no PDT mostra a incapacidade de Ciro para administrar sem rupturas até questões internas de um partido. E esse cabra queria ser presidente da República.

A deputada já havia se pronunciado a favor da reforma, mas o PDT fechou questão contra a proposta. No dia da votação, o presidente do partido, Carlos Lupi,  avisou que vai haver punição ao parlamentar que desobedecer a resolução. Ele foi ao Twitter para atacar quem defende o voto favorável. “Quem quiser o lado dos banqueiros, que vá para o lado de lá”, escreveu o pedetista.

O notório Lupi dando lição de moral pelo Twitter chega a ser engraçado. Mas mesmo Ciro Gomes, que até então exaltava Tabata como a grande revelação da política brasileira, andou sendo grosseiro com a moça. Depois de telefonar para a deputada para pedir que ela seguisse a orientação do partido, ele passou a insinuar que o voto favorável é por favorecimento pessoal.

“Eu fiz um apelo humilde pelo voto dela, para que seja contrário à reforma da Previdência. O governo tem um poder de convencimento que a gente não tem. Nós temos as palavras e eles têm emendas”, ele disse. É bem diferente do que dizia antes. Em março, ele escrevia no Facebook o seguinte: “A deputada Tabata Amaral é um tesouro! Só quem não conhece sua linda historia ou a vê com medo do que ela será no futuro, pode atacá-la desonestamente! Seu único defeito é a pouca idade com que tem que enfrentar a velhacaria política brasileira”.

Tenho a impressão de que o medo que essa tal “velhacaria política brasileira” tinha do que Tabata poderia ser no futuro chegou mais cedo do que Ciro esperava. Um pouco mais de seis meses foi tempo suficiente para que ele e seu partido mostrassem que promessa de renovação e o discurso com o aceno para valores democráticos e de respeito para a opinião contrária era só no gogó. O PDT e Ciro continuam alinhados com o velho dirigismo autoritário dos caciques da esquerda.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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