A nova lupa é a posição dos celulares no mapa das antenas
O cachimbo e a boina eram acessórios —Sherlock Holmes só os usava para não decepcionar seus fãs. Seu verdadeiro instrumento de trabalho era a lupa. Entre outras coisas, ela lhe permitia identificar cerca de 30 marcas de cigarros pela cinza caída no local do crime e determinar qual delas o criminoso fumava. Sherlock, às vezes, usava também uma fita métrica. Ao medir as passadas deixadas no chão pelo suspeito, ele estabelecia sua altura, profissão, cor dos olhos e há quanto tempo o sujeito voltara do serviço público na Índia.
Não estou exagerando. Um dos prazeres de ler as histórias de Sherlock criadas por Conan Doyle, mais até do que chafurdar pelos becos de Londres ou brejos de Devonshire em que elas se passavam, é acompanhar o poder de observação do detetive. E, quando seu cético amigo Dr. Watson dizia que eram deduções impossíveis de comprovar, o criminoso era descoberto e correspondia à descrição. O fascinante era a simplicidade das deduções, que, depois de explicadas, pareciam óbvias.
Sherlock seria impossível numa sociedade padronizada e de massas como a nossa. Mas não faria falta. Quando querem realmente resolver um crime, os investigadores dispõem hoje de ferramentas com que, até há pouco, os escritores de mistério nem sonhavam.
Suponha, por exemplo, que, em sua delação premiada, Antonio Palocci, ex-ministro dos governos Lula e Dilma, tenha contado que esteve com um ou com outra no dia tal, à hora tal e em lugar assim ou assado, para tratar de propinas, contratos viciados ou lavagem de dinheiro. Palloci se lembra desses detalhes porque, precavido como é, anotou tudo em agendas ou algo assim. Mas, e se os indigitados negarem? Será a sua palavra contra a deles?
Não mais. A análise das ligações telefônicas que trocaram e a posição dos celulares no mapa de antenas em cada encontro vão dizer se este aconteceu ou não. Tchau, Holmes.