Te amo espanhola

Foto sem crédito.

Antes de falar em Espanha, uma vaga lembrança. Na escola, a cartilha nos ensinava que o mundo teria 4 raças: a branca, a amarela, a negra e a vermelha – figuras do dominador, do perigoso, do escravo e do preguiçoso. Sobre a miscigenação os tons chegavam a ser pejorativos: mameluco, sarará, caboclo, mulato. Palavras que se aplicavam – ou se aplicam – até a xingamentos. Veio o novo tempo, o novo espaço: século 21, globalização. E como sempre o homem segue itinerante. As raízes lhe incomodam, lhe acomodam. Não somos árvores, nem pedra. Se a terra se mexe, as águas se movem, os ares se movimentam; logo o homem – ser movediço por natureza – não pode ficar parado.

Chegamos às correntes migratórias – terrestres, marítimas e aéreas. E à Espanha. Na modernidade, só os brancos fundaram novas nações, fincando bandeiras. Mas sempre se valendo das outras cores. E hoje, pelo que se vê, qual é a coloração do antropo-mundo? Um arco-íris antropológico, uma aquarela borrada – com direito a preto-e-branco? Quantas nacionalidades há no Brasil, não sei. Contudo, para a Espanha as cores registradas são as do passaporte europeu. Porém, a matéria-prima desse documento em parte vem das selvas tropicais e das pastas de nossas plantas vagabundas. As demais matérias-primas também, do solo e subsolo do “terceiro mundo”, disto sabemos faz tempo. Todavia, à União Européia o que importa é comprar barato e dinamizar o produto final – comprado, importado, por nós. A Espanha nos manda navegadores, aventureiros, investimentos, bancos, azeite-de-oliva, dançarinas de flamenco, vinhos, imagens de touradas, cavalos andaluzes, Almodóvar. Em troca de lucros, da conquista de mercados, da difusão cultural – de inigualável beleza, faça-se justiça. Os gols dos Ronaldinhos, do Real, do Barça, não contam nessa hora. No tabuleiro planetário estão os escravos, aqueles aptos a qualquer serviço – caso da maioria dos migrantes brasileiros. Pesquisadores, cérebros, artistas (futebolistas à parte, marketing à parte); estes são desconsiderados neste momento. E temos na leitura especializada os iluminados que dão peso ao dinheiro – os parâmetros dos valores-do-dia das moedas. Estes investem e lucram. Com pouca margem de risco. E grana pode migrar sem problemas. Sempre bem limpinhas.

Encerro este desabafo – em nome da “Tupinambrás” – com uma sugestão ao governo brasileiro: propor ao homólogo espanhol que a cada brasileiro barrado em Baralhas, lá, fique aqui um milhão de pesetas (mixaria), como recurso compensatório para ser investido na condição de vida – estudo, trabalho etc – desse imigrante potencial. À européia: o primeiro hispânico que pisou por aqui – às margens de Tordesilhas – veio em busca de ouro e prata. Jamais esqueçamos disso, hermanos. Sem embargo.

Ewaldo Schleder

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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