Chegamos às correntes migratórias – terrestres, marítimas e aéreas. E à Espanha. Na modernidade, só os brancos fundaram novas nações, fincando bandeiras. Mas sempre se valendo das outras cores. E hoje, pelo que se vê, qual é a coloração do antropo-mundo? Um arco-íris antropológico, uma aquarela borrada – com direito a preto-e-branco? Quantas nacionalidades há no Brasil, não sei. Contudo, para a Espanha as cores registradas são as do passaporte europeu. Porém, a matéria-prima desse documento em parte vem das selvas tropicais e das pastas de nossas plantas vagabundas. As demais matérias-primas também, do solo e subsolo do “terceiro mundo”, disto sabemos faz tempo. Todavia, à União Européia o que importa é comprar barato e dinamizar o produto final – comprado, importado, por nós. A Espanha nos manda navegadores, aventureiros, investimentos, bancos, azeite-de-oliva, dançarinas de flamenco, vinhos, imagens de touradas, cavalos andaluzes, Almodóvar. Em troca de lucros, da conquista de mercados, da difusão cultural – de inigualável beleza, faça-se justiça. Os gols dos Ronaldinhos, do Real, do Barça, não contam nessa hora. No tabuleiro planetário estão os escravos, aqueles aptos a qualquer serviço – caso da maioria dos migrantes brasileiros. Pesquisadores, cérebros, artistas (futebolistas à parte, marketing à parte); estes são desconsiderados neste momento. E temos na leitura especializada os iluminados que dão peso ao dinheiro – os parâmetros dos valores-do-dia das moedas. Estes investem e lucram. Com pouca margem de risco. E grana pode migrar sem problemas. Sempre bem limpinhas.
Encerro este desabafo – em nome da “Tupinambrás” – com uma sugestão ao governo brasileiro: propor ao homólogo espanhol que a cada brasileiro barrado em Baralhas, lá, fique aqui um milhão de pesetas (mixaria), como recurso compensatório para ser investido na condição de vida – estudo, trabalho etc – desse imigrante potencial. À européia:
o primeiro hispânico que pisou por aqui – às margens de Tordesilhas – veio em busca de ouro e prata. Jamais esqueçamos disso, hermanos. Sem embargo.