Tempo, tempo, tempo

Seto, caricatura de Paixão. Foto de Vera Solda

Soruda san, é com imenso pesar que vejo a notícia da viagem de Claudio Seto. Posso complementar o texto que li no blog com algumas coisas que soube que Seto fez no curto, mas bastante tempo, em que tive contato com ele.

Além de ser o cartunista, desenhista, ilustrador, etc., Seto teve um papel fundamental no resgate da cultura japonesa em Curitiba. Era diretor das áreas de cultura, imprensa e comunicação do Nikkey, a Associação Cultural e beneficente Nipo-Brasileira da cidade.

Foi o homem que criou os “Matsuris”, os festivais em que todos podiam conhecer a cultura da terra do sol nascente, aquelas festas que a cada ano recebiam mais visitantes que queriam saber da cultura japonesa.

“O Samurai de Curitiba” incentivou a nova e a tradicional culturas japonesas na cidade. Foi ele um enorme responsável por fazer com que os “gaijins” (os não-nikkeys) se apaixonassem, aqui na terra das araucárias, pelo que fazem os carinhas dos olhos puxados.

Só neste ano, que eu saiba, lançou, em junho, o livro “Lendas do Japão”, em que conta lendas japonesas e traz ilustrações que só ele sabia fazer. Pouco depois lançou um livro belíssimo, chamado “Haine (Raízes)”, que documenta, junto com a jornalista Maria Helena Uyeda e os pesquisadores Kaizô Beltrão e Sonoe Sugahara, a colonização japonesa e os dados do IBGE sobre essa população no Brasil.

O troféu do “HQ Mix” (considerado o grande prêmio do quadrinho brasileiro) entregue neste ano, na vigésima edição, homenageou Seto. Tinha formato de um samurai, remetendo às revistas que publicou na década de 60 pela Editora Edrel. Ele seria o homem que introduziu o estilo “mangá” no país.

Ainda neste ano ele atuou em um curta metragem chamado “Borboletas Azuis”, em que fazia a personagem de um cientista que buscava a cura para a humanidade e morria por isso. Pelo pouco que conheci Seto parte da vida dele não era muito diferente disso. Tinha um excelente relacionamento com toda a comunidade nipo-brasileira, desde os mais velhos, até os mais jovens.

Escreveu uma peça que homenageava os imigrantes japoneses. Ela foi apresentada em um “asilo-dia”, inaugurado há alguns meses pelo Nikkey. Vi velhinhos com mais de cem anos chorarem ao ver a apresentação.

Também criou, além dos matsuris bastante conhecidos e divulgados, o “Bunka Matsuri”, um festival cultural feito uma vez por mês na Praça do Japão, onde os jovens “cosplayers” (aqueles caras que se vestem como personagens de desenhos japoneses) se reúnem.

Seto ainda escrevia para jornais, incentivava e organizava mostras de fotografia e artes plásticas, além de apresentações de grupos japoneses no Brasil. Já recebeu títulos de “Mestre do Quadrinho Brasileiro”, “Pioneiro e Mestre do Mangá no Brasil” e de Cidadão Honorário de Curitiba (inclusive fez “A História de Curitiba em Quadrinhos”, publicada em homenagem aos 300 anos da cidade).

Chuji Seto Takeguma nos deixa no ano do centenário da imigração japonesa no Brasil, depois do “Grande Matsuri”, como chamavam. Na nova morada certamente fará enormes e alegres matsuris, mas agora também com as deusas e os deuses que ilustrou.

Como disse Gladimir Nascimento, quando Manoel Carlos Karam foi embora, “Deus está levando os bons”. Eu assino embaixo. Acho que ele tem sentido falta de boas companhias.

Curaudio Seto vai fazer muita faruta. Mas certamenute fará guranudes e beras fesutas com a garera em Ariures do Sul.

Kissu, Gisere Hishida.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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