Em entrevista dada hoje à rádio CBN, Valdemar Costa Neto declarou coisa parecida: “Vários documentos [como o encontrado na casa de Torres] circularam”, disse o presidente do PL. “Vinha proposta de todo lugar (…) Tinha gente que preparava isso e mandava pra gente, advogado, advogada”. Perguntado se a partir dessas “propostas”, Valdemar, a exemplo de Torres, também teria formulado uma minuta golpista que mantinha dentro de casa, o dirigente do partido de Jair Bolsonaro negou a hipótese singelamente: “Não, eu tinha o cuidado de por tudo no moedor”
A crer no que dizem Torres e Valdemar, a capital federal do país foi acometida nos últimos meses por uma chuva de minutas golpistas para as quais, surpreendentemente, ninguém dava bola — a reação dos destinatários variava apenas entre guardar as propostas inconstitucionais no armário ou livrar-se delas lançando-as no triturador de papeis. Evidentemente, a fala de Valdemar não passou de uma tentativa de minimizar as acusações que pesam sobre o ex-secretário e não o coloca na mesma situação que ele. No caso de Torres, especialistas já arriscam dizer que a prevaricação é o crime menos grave ao qual terá de responder.
Alguns dos outros são tentativa de golpe de estado, abolição violenta do estado democrático de direito e associação criminosa. Mas, para além dos desdobramentos políticos e criminais que a investigação sobre Torres possa produzir — incluindo a entrada do ex-presidente Jair Bolsonaro no inquérito— a performance do ex-secretário nos atos extremistas de 8 de janeiro já transformou Brasília.
O ministro da Justiça, Flávio Dino, planeja entregar na próxima segunda-feira ao presidente Lula um pacote de sugestões de medidas para “federalizar” a segurança da capital federal. A ideia do pacote é evitar que, numa situação de emergência, Brasília — e principalmente a sua área central, onde ficam o Palácio do Planalto, o Congresso e o Supremo Tribunal Federal — fique “refém” dos comandos de um governo local. Entre as propostas em estudo que o ministro planeja enviar ao presidente está a de tornar obrigatória a aprovação, pelo Senado, do nome do indicado, pelo governo do DF, para o cargo de secretário de Segurança.
Significa que, se o governo não quer correr o risco de enfrentar um novo 8 de janeiro, menos ainda quer se arriscar a ter na linha de frente outro Anderson Torres. Dino afirma que nenhuma das sugestões do pacote, que devem incluir ainda a formação de uma guarda nacional permanente para proteger a capital, irá ferir a autonomia da administração do DF. Bom que seja assim — basta de coisas estranhas descendo do céu de Brasília