The Voice

Solda: dois momentos de Ivo Rodrigues: setembro de 1985. Eu estava no útimo ano do curso de Desenho Industrial, já toda assanhada com cenários e figurinos de teatro com o Zé Maria Santos (coordenava o teatro de lá), estávamos organizando um “pequeno” show de talentos, tipo “prata da casa” e o sonho dos aspirantes a músicos era que a Blindagem desse as caras por lá para nos ver. Inútil ilusão, inútil esperança, fomos falar com o Thadeu que, na época, era professor de português no CEFET e reunia, em sua volta, um séquito enorme (principalmente seguidoras) e era tido como “o maldito” no bom e mau sentido, para nossa alegria. Pedimos a ele na maior cara de pau (e espinhas) que contatasse os caras. Expectativa e ansia, no dia do show, trabalhamos muito e, se foram, não vimos, mas acreditamos piamente que eles apareceram para nos ver (a propósito,Thadeu declamou seus poemas no show e, de longe, foi a melhor coisa da noite).

Segundo Momento: pulamos para maio de de 1990, eu já tinha passado por poucas e nada boas experiências profissionais em Teatro, TV e estava perigosamente aventurando-me em desenho animado. Eu e alguns desenhistas estávamos realizando um desenho, de cunho paradidático, para a Volvo do Brasil e, na trilha sonora, chamamos para criar música e letra o(sumido) Celso Piratta Loch. Só ele poderia chamar as vozes adequadas para interpretar as músicas de um desenho como aquele. Como eu havia cantado em corais líricos e populares, meti a minha colher enferrujada e chamei vários cantores que, mesmo até bons, não davam conta do recado. Tudo soava falso, artificial, não havia a emoção que nos procurávamos naquelas vozes. Até que Celso olhou pra mim, piscou seu único olho bom, e soltou: “vou chamar um amigo”.

Poucos dias após, entra no microestúdio do Celso aquela figura toda superlativa, e, confesso Solda, na hora pensei: “é muita areia pra esse caminhão”. Não e necessário dizer, Solda, que Ivo foi de uma generosidade que só ele sabia dar, repassou as nossas “cançonetas” quantas vezes nosso maestro pediu, contou as mesmas velhas piadas e gracinhas, enfim, nos deixou felizes e aliviados. Depois disto ,toda vez que me encontrava, chamava-me de “dama rubra” (eu vivia de vermelho,não sei por que).

Hoje, fui no velório, mas é estranho porque minhas pernas e o resto do meu corpo gordo estavam lá, escreveram meu nome, mas eu não fui . Achei o CD que eu pirateei de um programa de rádio e fiquei cantando músicas e fazendo sinais de fumaça
….”vejo nos teus olhos tao profundos a dureza que este mundo te deu pra carregar…”

É isso. Telma Nardes.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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