Tio Barnabé: os empresários parasitas de Brasília

Trypanosoma-cruzi

© Myskiciewicz

É proverbial a inexistência de capitalismo verdadeiro no Brasil. O que temos por aqui é uma mistura mal resolvida entre a liberdade de empreender e as armadilhas que o Estado cria para aqueles que a perseguem. As empresas brasileiras listadas na Bovespa terminaram 2015 valendo menos do que o Google. Por outro lado, evidenciando nossa cultura de aversão ao risco, o Tesouro Direto nunca esteve tão bem. A classe média aplica e especula diretamente nos títulos públicos e reclama de nossa dívida interna e nossa taxa de juros!

Também é notória nossa falta de engenhosidade. Cadê nossos Graham Bell, James Watt, Daguerre, Pasteur, Alan Turing, Francis Crick, Karl Benz? Atenção…O trágico Santos Dumont não “inventou” o avião. De todo modo, era mais francês que brasileiro.

Mas gostaria de me concentrar em algo muito nosso, mais uma de nossas idiossincrasias: o empresário parasita do Estado.

Nos acostumamos a ver bilionários jovens na imprensa, gente como Zuckerberg, Larry Page e Sergey Brin, Bill Gates, Steve Jobs, Richard Branson. Todos, sem exceção, geniais. Todos também fizeram suas respectivas fortunas sem ajuda de governo algum.

No Brasil, temos os geniais André Esteves, Marcelo Odebrecht, Daniel Dantas, Eike Batista e os arrivistas caipiras da JBS. Podem procurar. Por trás de todo dinheiro desse pessoal encontra-se algum envolvimento com coisas do Estado brasileiro. O BNDES talvez seja o maior banco de fomento do mundo (umas três vezes o Banco Mundial), com ativos de cerca de 850 bilhões de reais. Nos últimos 8 anos. emprestou mais de 500 bilhões de reais para nossos gênios, com taxas de juros camaradas. O subsídio embutido, é claro, foi todo pago pelo contribuinte brasileiro.

A Lava Jato está nos explicando detidamente como as coisas aconteciam.

Aqui em Brasília temos mais um personagem: empresário de empresas que terceirizam serviços públicos. Coisas como segurança, limpeza e conservação. O tipo é bem conhecido: tem um olhar untuoso, o pendor para a sabujice, a modéstia fabricada, as queixas recorrentes, um certo ar saturnino. Tudo até conseguir o contrato naquela licitação combinada com os demais empresários do ramo e com o barnabé ordenador de despesas.

O modelo da picaretagem não é nosso. Dizem que a máfia napolitana sempre explorou a terceirização da limpeza. Já a máfia americana se dedicou até a década de 80 a manipular toda a cadeia de coleta de lixo.

No Planalto Central, a maioria desses “empresários” torna-se parlamentar. Temos vários espécimes na Câmara Distrital do DF, na Câmara dos Deputados e até no Senado. De tempos em tempos, as empresas quebram. O poder público fica com o passivo trabalhista. Criam-se novas, com novos laranjas e novos CNPJ.

Frequentam a “auto-sociedade” brasiliense com seus Land Rover e Ferraris amarelas. São lacustres dos Lago Norte e Sul. Têm uma respeitabilidade social inversamente proporcional à remuneração que pagam aos seus empregados.

o antagonista

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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