Todo apocalipse tem seu fim

O Carnaval terminou, mas a apuração da micareta golpista continua

Demorou, mas o resultado está saindo. Com certo atraso, as primeiras notas da apuração começam a ser lidas pelos jurados.

A narrativa “Dos delírios de fraude eleitoral nasceu o esplendor de um golpe” foi magistralmente documentada de forma impressa e auditável em diversas minutas. O enredo foi colocado em prática numa reunião gravada em vídeo e provocou arrebatamento de uma legião de fiéis. No dia do desfile, os adereços verde-amarelos ornaram com os ônibus alegóricos e com os acampamentos em tons oliva. Um arraso! A perda de dois décimos se dá pela falta de originalidade da narrativa, claramente inspirada no enredo do Cordão do Capitólio.

Fantasia – Nota 10

A capacidade que o bolsonarismo tem de fantasiar a realidade é hors-concours. Sem falar no uso antológico do verde-amarelo, em todas as suas escalas de tonalidade, numa simbiose perfeita com o enredo.

Evolução – Nota 10

Não há dúvidas quanto à empolgação, coesão e vibração dos componentes. Invadiram a praça dos Três Poderes, quebraram tudo o que viam pelo caminho e destruíram todo o prédio do Supremo Tribunal Federal sem deixar buracos entre as alas. Até mesmo o recuo da bateria policial ocorreu em perfeita sintonia com o desfile.

Alegorias e adereços – Nota 9,5

Brilharam os elegantérrimos kits da marca suíça Chopard, os relógios Rolex e Patek Philippe e as joias exibidas pela ala “Mercadores da Arábia”. O destaque Valdemar da Costa Neto também surpreendeu com uma reluzente pepita de ouro. Outro destaque que será lembrado é Roberto Jefferson e suas granadas de luz e som. Mas onde sobrou glamour e riqueza faltou criatividade e inovação. O carnavalesco do golpe certamente faltou à reunião de cúpula gravada por Bolsonaro.

Harmonia – Nota 6

Talvez tenha sido o grande entrave que impediu a agremiação golpista de permanecer no Grupo Especial. Faltou harmonia, inclusive entre membros da diretoria militar.

A apuração da micareta golpista, no entanto, ainda não foi concluída. A Polícia Federal precisa revelar quem são os integrantes da Comissão de Frente para que os julgadores possam concluir seu trabalho.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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