É sempre no ano passado aquele orgasmo,
é sempre no presente aquele duplo,
é sempre no futuro aquele pânico.
É sempre no meu peito aquela garra.
É sempre no meu peito aquele aceno.
É sempre no meu sono aquela guerra.
É sempre no meu trato o amplo distrato.
É sempre na minha firma a antiga fúria.
É sempre no mesmo engano outro retrato.
É sempre nos meus pulos o limite.
É sempre nos meus lábios a estampilha.
É sempre no meu não aquele trauma.
Sempre no meu amor a noite rompe.
Sempre dentro de mim meu inimigo.
E sempre no meu sempre a mesma ausência.
Carlos Drummond de Andrade,
José & Outros, Livraria José Olympio
Editora, 1967.