O Fato
Na água em que me lavo,
o teu escarro. No prato em que almoço,
a tua moléstia.
Nas coisas que eu afirmo,
a tua idéia. Na minha voz
que fala e chora e cala,
a tua mentira.
Atrás de mim passeias livremente
e não te barro
não me volto e não te enxergo.
Te sinto apenas a repetição de minha angústia
vezes dois
e te imagino torto
e te sei um fato ereto em minhas costas,
caminhando.
o teu escarro. No prato em que almoço,
a tua moléstia.
Nas coisas que eu afirmo,
a tua idéia. Na minha voz
que fala e chora e cala,
a tua mentira.
Atrás de mim passeias livremente
e não te barro
não me volto e não te enxergo.
Te sinto apenas a repetição de minha angústia
vezes dois
e te imagino torto
e te sei um fato ereto em minhas costas,
caminhando.
Assustam-me os meus dedos: são os teus,
magros, inúteis.
Reparo à toa num espelho: a minha face
não é mais a minha, mas a tua
e teu desdém.
Na rua, amigos me perguntam como vou.
Digo: vai mal, vai mal…
e deixo que teus passos me insinuem na ida
e me obstruam a vinda.
Sempre estou lá. Não saio
do arcabouço do meu corpo.
Calabouço?
Digo: balanço – mas por detrás sussurras:
masmorra indissolúvel na qual te encontras.
E eu fico.