Todo dia é dia

A Equilibrista

Pé-antepé, avanço na corda bamba
A corda é o fio de uma navalha
E a vara que deveria me dar equilíbrio
Uma enorme serpente branca.

Não há rede de segurança
Os holofotes me impedem de ver a platéia:
Apenas ouço seu mastigar aflito de pipoca e algodão-doce
Assim como seus corações torcedores

Torcem, em seu íntimo mais profundo
Para que eu caia
Que a serpente me envolva
Quebre meus ossos e me devore
Que o fio da navalha chova meu sangue

Aguardam ansiosamente minha queda no abismo
– não haverá baque no final
Assim como não existe o final da corda
Apenas escuridão e seu balançar

Mas sigo em frente
Firme e compenetrada
Sentindo o gelo do aço sob meus pés.

A serpente me alisa, me provoca e me bolina
Ao mesmo tempo me enforca e me desequilibra,
Enquanto enfia seu corpo escorregadio entre minhas pernas.

Os holofotes operam no auge de sua luminância.
Minhas pupilas já não são visíveis.

Não me pergunto aonde isso vai dar.
Apenas sigo em frente
Firme e compenetrada
Sentindo o gelo do aço sob meus pés.

Priscila Andrade

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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