Todo dia é dia

Foto de Vera Solda.

A outra face

“Sou um rio que corre do mar
Água esplêndida estendida ao limite
Tão irregular como o verbo amar”


Essa minha cara de jacarandá
Repleta de sóis estúpidos demais
E luas de nunca mais
Anda vendo coisas que não há

Uma escada para o infinito
Um bom poema para comer
Outro melhor ainda para beber
E eu só fazendo bonito

Essa minha cara de imbuia
Cercada de samambaias caídas
E rosas carolas distraídas
Parece estar indo pra cucuia

Sem meus sonhos de bem querer
Sem meus olhos poloneses
Sou um estranho entre quatro paredes
Escrevendo espelhos para me ver

Essa minha cara de taquara
Anulada de palhaços risíveis
E piruetas inverossímeis
Carrega uma dor que não sara

E nem mesmo esse vendaval
Me faz mover um músculo sequer
Para ir atrás do que deus quiser
Como foi o vento de avental

Essa minha cara de bracatinga
Cansada de olhares faiscantes
E longos caminhos eqüidistantes
É uma saudade que respinga

E tanto fez que agora tanto faz
Só o poema realmente interessa
Esse fluxo vital que não cessa
E vai para onde não estou mais



Thadeu Wojciechowski

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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