Todo dia é dia

quando adoideço e me rôo
quando me congelo e derreto
é a minha casa que vejo se anoiteço

de casa a gente sai mas não volta
porque vai topar com a mãe morta de tanto chorar
de casa a gente sai mas não volta
porque quem agüenta ver o pai velhinho a sangrar?
de casa a gente sai mas não volta
porque a memória de você-menino irá lhe estranhar
de casa a gente sai mas não volta
porque nem a sua sombra poderá com você se encontrar
de casa a gente sai mas não volta
porque a bruxa não desgruda e as casas mudam de lugar
de casa a gente sai mas não volta
porque gastamos nossas asas e findamos por enferrujar
de casa a gente sai mas não volta

sonhei que eu voltava pra casa
de costas
mais morto do que vivo
ainda mais torto e sem juízo
de costas
mas voltava pra minha casa

a mãe morta (eu sei)
cuidará de mim perguntando
se parece comigo aquele que veio
pra embalar minha ausência no colo gasto
pra beijar saudades com seus lábios mortos

ninguém volta (o mesmo) pra casa
mas agora nem comigo mais eu me esbarro

vou desenterrar a casa meu pai e a mãe e assim

nós três ficaremos juntos pra sempre outra vez

sérgio rubens sosséla – 22.2.89

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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