há horas que me faltas
e peço que, ainda ao pé da cama,
à gravura de Jesus-Maria-José
desfies teu terço,
e que a vela das almas que acendes
a sombra da tua fé
desenhe nos sarrafos das paredes
sentado no caixote de lenha
olhando as cinzas que brasas
também foram madeira,
sozinho e calado sorvo
o café que há tão pouco
passaste do pano ao bule
à caneca de folha esmaltada com flores
e, em azul, “saudade”
na folhinha com dias dos santos
é sábado, 20 de julho
há sete anos
procuro teu lenço,
mas faltam lenços às polacas
que, com as saias sobre as calças,
reclamavam: “zimno, mésmo”!
e iam a pé, na estrada-velha,
rezar na Capela da Matka Boska Bolesna,
na Colônia Thomaz Coelho
broa banha e sal já tenho,
pierogui na feira, dança no teatro,
casa de tronco, artesanato
– essas coisas de polonês –
mas do pouco polaco que penso,
falta sempre nas cabeças polacas
um lenço