A revisita ao dicionário me deixa sempre alegre, bem-humorado e dá sensação de que o mundo é bom. Abro aleatoriamente e vou lendo. Melhor do que dar pipoca aos macacos ou trela a corações partidos. Palavra puxa verbete e verbete solta a imaginação até que entre uma bela mulher na sala e faça o ar se arrepiar de emoção. Veja que exemplo magnífico: quatipuruaçu.
Até agora palavra inexistente. Nem cócega me fazia na cabeça, nem sabia que roupa usava. Agora é mamífero roedor, da família dos ciurídeos, com cerca de 50 cm da ponta da cabeça à ponta da cauda. De dorso preto, agrisalhado por pelos amarelo-avermelhados, ventre vermelho-ferrugíneo, tornando-se vermelho-cereja na porção externa dos membros, e cauda tufosa, vermelho-ferrugínea com manchas pretas na parte basal. Não são raras as formas melânicas. Tem variação no nome, ainda: acuatipuruaçu. Lá se vai o bichinho colorido brincar com minha imaginação. Esqueceram de dizer o que ele come e seu porte. Poderia mandar entregar pizza na casa dele e recomendar o último lançamento da Levi’s. Talvez perguntar se assistiu àqueles filmes italianos da década de 60 ou se gosta de pescar. Enquanto isso, já vi outra palavra brilhando bem ali: quatro-patacas.
É trepadeira ornamental, lactescente, da família das apocináceas, de folhas verticiladas, sésseis, obovado-lanceoladas, acuminadas e pubérulas, flores amarelas especiosas que alcançam cinco centímetros e se congregam em cimeiras, e cuja corola é campanulada. O fruto é cápsula bivalvar e equinada. Quantas novas palavras nascem de uma só. Quantas pequenas delícias na simples descrição! E termino achando a palavra: quatérnion. Que significa qualquer elemento de conjunto que constitui um corpo, exceto pela comutatividade da multiplicação, e que se pode representar pela soma a + bi + cj + dk, e que a, b, c e d são reais. Confesso que fiquei algebricamente na mesma.