Tudo óbvio e ululante ou usaria lâminas paralelas?

A revisita ao dicionário me deixa sempre alegre, bem-humorado e dá  sensação de que o mundo é bom. Abro aleatoriamente e vou lendo. Melhor do que dar pipoca aos macacos ou trela a corações partidos. Palavra puxa verbete e verbete solta a imaginação até que entre uma bela mulher na sala e faça o ar se arrepiar de emoção. Veja que exemplo magnífico: quatipuruaçu.

Até agora palavra inexistente. Nem cócega me fazia na cabeça, nem sabia que roupa usava. Agora é mamífero roedor, da família dos ciurídeos, com cerca de 50 cm da ponta da cabeça à ponta da cauda. De dorso preto, agrisalhado por pelos amarelo-avermelhados, ventre vermelho-ferrugíneo, tornando-se vermelho-cereja na porção externa dos membros, e cauda tufosa, vermelho-ferrugínea com manchas pretas na parte basal. Não são raras as formas melânicas. Tem variação no nome, ainda: acuatipuruaçu. Lá se vai o bichinho colorido brincar com minha imaginação. Esqueceram de dizer o que ele come e seu porte. Poderia mandar entregar pizza na casa dele e recomendar o último lançamento da Levi’s. Talvez perguntar se assistiu àqueles filmes italianos da década de 60 ou se gosta de pescar. Enquanto isso, já vi outra palavra brilhando bem ali: quatro-patacas.

É trepadeira ornamental, lactescente, da família das apocináceas, de folhas verticiladas, sésseis, obovado-lanceoladas, acuminadas e pubérulas, flores amarelas especiosas que alcançam cinco centímetros e se congregam em cimeiras, e cuja corola é campanulada. O fruto é cápsula bivalvar e equinada. Quantas novas palavras nascem de uma só. Quantas pequenas delícias na simples descrição! E termino achando a palavra: quatérnion. Que significa qualquer elemento de conjunto que constitui um corpo, exceto pela comutatividade da multiplicação, e que se pode representar pela soma a + bi + cj + dk, e que a, b, c e d são reais. Confesso que fiquei algebricamente na mesma.

É catador do papel das palavras

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
Esta entrada foi publicada em rui werneck de capistrano. Adicione o link permanente aos seus favoritos.
Compartilhe Facebook Twitter

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.