Trégua de Ciro foi curta

Atrás nas pesquisas, o ex-governador do Ceará volta a atacar. Acusa Lula de ter cometido “erros terríveis” e diz que o ex-presidente deveria pedir perdão

Gostaria de escrever sobre os aniversários lembrados pelo Trajano no papo de ontem. Os 90 anos do Cristo, os 51 anos de Cláudia Abreu e a mostra no Centro Cultural Banco do Brasil de SP em homenagem aos 80 anos de Betty Faria. Poderia também abrir espaço para o filme do espanhol Fernando Trueba sobre o pianista Tenório Jr., sequestrado, torturado e morto pela repressão argentina em março de 1976, em Buenos Aires.

Seriam homenagens mais do que justas. Mas não posso deixar passar em branco o novo ataque de Ciro Gomes ao ex-presidente Lula. Depois de ter sido vaiado em São Paulo, durante manifestação pelo impeachment de Bolsonaro, Ciro afirmou que faria uma “trégua de Natal” em suas críticas ao líder petista e também aos militantes do PT. O mais importante, segundo ele, era manter unida a frente de oposição ao Capitão Corona.

Sua trégua, porém, foi curta e terminou muito antes do Natal. Ocupando um incômodo terceiro lugar nas pesquisas de opinião sobre 2022, nas quais oscila entre 5% e 8%, o ex-governador do Ceará, que é pré-candidato à Presidência, decidiu voltar a atirar pedras em Lula. Ou seja, Ciro investe de novo na estratégia de buscar votos de eleitores do centro para a direita que torcem o nariz para o PT. Tenta atrair eleitores que votaram em Jair Bolsonaro em 2018.

Em vídeo divulgado na segunda-feira, Ciro afirmou que Lula não se corrige e nunca pediu perdão pelos erros cometidos em seu governo. Eis o texto na íntegra: “Lembre que o Brasil mudou muito e Lula não renovou as ideias. Será que ele se corrigiu e não vai repetir aqueles erros terríveis que você só descobriu depois? O pior é que você nunca viu ele pedir perdão pelos erros e está vendo ele se juntar, de novo, às mesmas pessoas”.

Dizem que o ataque foi recomendado pelo marqueteiro João Santana, contratado pelo PDT para tocar a campanha de Ciro à Presidência. Conhecido como “Tio Patinhas” desde os tempos da juventude em Salvador, quando aparecia de terno e gravata entre seus amigos hippies, Santana seria o mentor da linha mais agressiva em relação ao ex-presidente. Só assim Ciro teria chance de atrair votos conservadores e chegar ao segundo turno, talvez no lugar de Bolsonaro.

Há outra explicação, segundo os jornais: Ciro estaria reagindo ao jantar de Lula em Brasília com caciques do PMDB, entre eles o ex-senador Eunício Oliveira, que é adversário do ex-governador na política do Ceará. Pode ser isso ou aquilo. Mas o certo é que Ciro quebrou a promessa de trégua e voltou a acionar sua metralhadora giratória contra Lula e o PT.

A mim, Ciro Gomes não surpreende. Não era mesmo para confiar na tal da trégua de Natal. Ciro sempre teve pavio curto e língua ferina. E seu alvo predileto nos últimos tempos tem sido Lula. Na semana em que o Brasil lamenta 600 mil mortes pela Covid, ele prefere divulgar um vídeo com ataques ao ex-presidente. Deixa no ar os “erros terríveis” de Lula, sem sequer mencionar quais são.

Não foi um deslize nem uma explosão de momento. Ciro não para de perder espaço na esquerda e sua guinada para a direita está sendo executada de modo pensado. Ele acredita piamente que pode ser o candidato da terceira via. Essa é sua aposta. E assim será durante toda a campanha.

Octavio Costa

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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