Ao invés de tomá-lo de mersault, como imaginara o moço, o old smugler indicou-lhe a champanha e disse: Tokay! Obediente, o jovem respondeu gin e fizz isso, provocando o aparecimento à porta, digo, ao porto, de uma mulher amada que logo lhes ofereceu leite. Recusaram porque não era de premiers crus e já estava um tanto merlot. Contentou-se, o nosso atrapalhado herói, chianti da insistência da moça, com um prato tipo queijo de beefeater com fritas, que comeu com grande gula embora fosse até bem magraux. Já o seu acompanhante, que puxava mais sobre o gordon, fazia uma appellation controle pra cima da cozinheira, que se chamava Bloody Mary ou Maria Sanguinária, se preferirem. Ela era, em que pese o nome e o aspecto brut, uma autêntica angostura com sua ferreirinha de pulso enfiada no braço. A esta altura, os dois só iam. Diga siga, gritava o contrabandista. Estou grogue, respondia o moço, steinhager um pouco aquela destilação. Como já era tarde da noite, decidiram se acampari por lá mesmo. Um gato preto ron ron nou enquanto um merino lanudíssimo aguardava a vez de entrar na tequila.
Vestindo um ponche de arrak, o old smugler aproveitava-se agora de uma pobre caipirinha que aparecera por acaso, eis sifão quando entra no aposento um ser, veja, que mais parecia um corvo velho com bourbon de três dias. Ihou-os ambassador, fez menção de sauer, deu meia vodca e um soco na porter, afirmando que não trabalhava para viúva que fazia clicquot. Absinto que ele vai nos manhattan, sussurrou apavorado o moço que trocava as coisas. E acrescentou: Estou com um medoc danado. O contrabandista não parecia perturbado: Este cara tem um jeito sauterne mas não passa de um tremendo beaujolais. A mãe dele era punta y mesmo, arrematou frisante. Ao ouvir o insulto, o velho corvo ficou vermouth de cólera e ergueu o pernod à frente. Em um pisco de olhos, encostava na fernet branca do moço o cano negroni da sua pistola. Tinha o rosto esburacado, como se houvesse contraído valpolicella. Daiquiria muito e ameaçava a vítima: Vou te fazer uma sangria, vou te levar pro jerez. Lacrima Christi, exclamava o jovem. Toma uma atitude aí. É o kümmel se… este… es… pan… talho nos liquido… ar.
Percebendo que o tempo torneira-se quentão, o contrabandista ergueu-se, agitou, mexeu, bateu o corvo velho com força, não coou nenhum golpe, reduziu-o a um amontilhado de ossos – e acabou jogando o copo fora. Ao gê-lo picado, voltaram licores à face do rapaz, que, convenhamos, cumpriu seu calvados, porém vinho um pouco verde para enfrentar esta história. E por pouco não a strega toda.
Armando Coelho Borges (1937-2013) do Livro QI 14, Coleção Guaipeca, Editora Guaratuja, 2ª Edição, 1975.