Trovinha – segundo um “acadêmico” curitibano

crisântemo branco –
sequer um grão de poeira
ao alcance dos olhos.

Matsuo Bashô (1644-1694)

Versos de abertura (hokku) de uma sessão de kasen (seqüência de 36 estrofes) realizada na casa de Sonome (1664-1716), discípula de Bashô residente em Osaka. A sessão se deu em novembro de 1693. Tradicionalmente, o hokku é uma peça de saudação, augurando o bom andamento da sessão de poesia.

Neste caso, o poema foi dirigido à anfitriã do encontro. Bashô provavelmente viu a flor e, atraído por sua branca pureza, examinou-a cuidadosamente, não conseguindo encontrar sequer um ponto de sujeira. Claramente, Bashô fez um contraponto ao waka de Saigyô (1118–1190), que diz: “Sobre o espelho/Tão límpido e brilhante/ Um simples grão de poeira/ Salta aos olhos./ Assim é o mundo”. Trocando “espelho” por “crisântemo branco”, os versos resultantes exaltam os sentimentos puros e a refinada elegância de Sonome.

É um poema simples, mas que faz parecer que não existe nada no mundo além de um crisântemo branco. Sonome respondeu com os seguintes versos: “Jogo água sobre as folhas do momiji (bordo)./ No céu, a lua matinal.”. O kigo (termo de estação) é shiragiku (crisântemo branco) e a estação é outono.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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