Bolsonaro, feliz igual a um pinto no lixo, mas na Casa Branca ao lado do grande ídolo. © Alan Santos|PR
O jornal americano Washington Post vem fazendo uma checagem periódica das falas e mensagens nas redes sociais do presidente Donald Trump e com isso chegou a um resultado impressionante. O mundo inteiro sabe que Trump é um mentiroso, sendo ele um aplicado explorador da chamada “pós-verdade”, mas mesmo assim é de tomar um susto quando os números são revelados na sua inteireza, como fez o Washington Post.
Até os primeiros dias deste mês, conforme descobriu o jornal americano em seu “fat checker”, o presidente Trump havia realizado 12.019 afirmações incertas. A avaliação do material foi até o dia 5 de agosto, o que completa 928 dias no cargo. Isso significa que Trump falseou dados da realidade uma média de 13 vezes por dia. Isto configura o que eu já escrevi, que nem se pode mais chamar de “pós-verdade” o que vem sendo feito na política, pois apagou-se qualquer verdade anterior. É a mentira em cima da mentira, o que seria melhor chamar de “pós-mentira”.
Mas o fato é que temos um governo altamente poderoso que vem sendo movido por um manipulador sem escrúpulos. Na política, esta mandracaria sequer é nova. O sistema comunista, que teve início na Rússia a partir de 1917, estabeleceu este procedimento como um método de manutenção do poder e do ataque aos adversários. É verdade que o capitalismo sempre teve também disso, mas nunca o equilíbrio de forças tendeu de tal modo para o uso abusivo da mentira, como acontece hoje.
E a equação da pós-verdade de Lênin, Trotsky e Stalin continha também a eliminação física do inimigo e podia inclusive fazer dos próprios companheiros este alvo, como Trotsky descobriu um pouco adiante. O fascismo também fez uso dessa manipulação que embaralha a mente das massas. E o nazismo se fez a partir de mentiras, a começar da construção falsa de um inimigo fenomenal na figura do judeu, um fake news histórico que acabou no Holocausto.
O que tem de novo nesta manipulação é a facilidade criada pela tecnologia cibernética, na multiplicação da mentira e da fraude. E que ninguém acredite, por favor, que este meio permite que qualquer um transforme o mundo a partir de seu celular. A manipulação exige estrutura e dinheiro, contando também com bases materiais que incluem a manutenção de um clima ameaçador, sendo obrigatório que a inverdade ecoe e seja repassada por militares, políticos, advogados, jornalistas e também pelos figurões do Judiciário.
Isso não pode sair da casa de um cidadão comum porque nela falta uma “caneta bic” capaz de distribuir dinheiro e poder. E chegamos até o fã mais poderoso de Trump no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro, que segue à risca as lições do mestre, fazendo o serviço de forma meio tosca e evidentemente com menos aparato técnico e político que seu ídolo político americano, mas perseguindo o objetivo comum de ter mais e mais poder. Se for feita uma checagem do que saiu até agora da boca de Bolsonaro e das suas mensagens nas redes sociais, vai-se chegar a números altos de manipulação e mentira. Acho até difícil encontrar algum trigo dentre tanto joio.
A receita é a mesma de Trump e o entusiasmo na sua aplicação por Bolsonaro vem da sua crença e do respeito do pessoal de seu entorno à trajetória do presidente americano. Eles acreditam fanaticamente nessa desconstrução contínua. O sucesso da campanha de Trump, com a surpreendente eleição para presidente dos Estados Unidos, estimulou esta ideia política do eterno embaralhamento da realidade. O que esse método evidentemente não contempla são resultados de qualidade no governo de um país, como os brasileiros sentem na própria pele, com a economia atolada numa crise desesperadora e sem rumo algum, enquanto o Brasil vai se aguentando como pode, quase naufragando em meio a tanta mentira e confusão.