Na pesquisa geral, o petista tem 44% enquanto o candidato do PL, 31%. Não é à toa, portanto, que a campanha de Bolsonaro tem se esforçado em tentar convencer que Bolsonaro “gosta de mulheres”. Essa foi a tônica do discurso da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, no evento de oficialização da candidatura do marido, neste domingo (24). “Falam que ele não gosta de mulheres. E ele foi o presidente da história que mais sancionou leis para mulheres, para a proteção das mulheres. Setenta leis de proteção para as mulheres. Falam que ele não gosta de mulheres, mas ele sancionou a lei que dava direito às mães com filhos com microcefalia de receber o BPC. Quando ele leva água para o Nordeste, ele está cuidando da mãe dona de casa, a mãe que leva o balde, a bacia na cabeça para cuidar de seus filhos”, afirmou. “Esse é o presidente que não gosta de mulheres, que não gosta de mulheres. A diferença é que ele faz, a diferença é que ele não quer se promover.”
A questão é que, para reverter a grande diferença com Lula entre esse público até outubro, Michelle – que fez um discurso de tom messiânico – teria que operar também um milagre, uma vez que o presidente é acusado de tornar a vida delas mais difícil, com a erosão do poder de compra, as mortes na pandemia e as declarações machistas….
Fome, negacionismo e machismo tiram voto de Bolsonaro entre mulheres Há uma parcela das mulheres que reprova Bolsonaro por seu comportamento historicamente misógino e violento. Quando parlamentar, ele afirmou, por exemplo, à deputada federal Maria do Rosário que ela não “merecia” ser estuprada por ele. Também disse que teve uma filha mulher porque deu uma “fraquejada”. Isso não mudou quando assumiu o governo, pelo contrário. No último 8 de março, em celebração do Dia Internacional da Mulher. Nele, o presidente afirmou que “as mulheres estão praticamente integradas à sociedade” – mostrando, dessa forma, que é ele quem não está. Sua política de liberação de armas tem efeito negativo junto ao público feminino, apesar de conseguir bons resultados junto a homens inseguros. E seu negacionismo na pandemia de covid-19, que ajudou o país a atingir 670 mil mortes, também é repudiado mais por mulheres do que homens. Os impactos da crise econômica se fazem sentir mais entre as mulheres (principalmente as negras) do que entre os homens, de acordo com a Síntese dos Indicadores Sociais do IBGE. Contudo, agora ele administra um país com uma inflação anual de quase 12% e uma queda de 7,2% no rendimento médio mensal. Não apenas porque elas foram atingidas em cheio pelo desemprego e pela queda de renda, mas também porque muitas delas são as responsáveis pelo bem-estar de suas famílias. É a crise econômica, que joga 33 milhões de pessoas para a fome, e não questões comportamentais e culturais que tira o sono de dezenas de milhões de mulheres diariamente.
Para reduzir o impacto econômico nesse grupo, Bolsonaro aposta no reajuste temporário do Auxílio Brasil, que passará de R$ 400 para R$ 600 a partir de agosto, mas também do aumento do vale-gás. Considerando famílias que ganham até um salário mínimo, ele tem 61% a 19%, enquanto vence Bolsonaro por 52% a 26% entre quem tem rendimentos entre um e dois salários por mês. Esses dois grupos representam 43% da população. O presidente também escolheu as mulheres jornalistas como alvo preferencial para seus ataques à liberdade de imprensa. Profissionais como Patrícia Campos Mello e Miriam Leitão sofrem com declarações do presidente que servem de ordem de ataque para assédio violento por parte de seu rebanho.
Em 4 de fevereiro, Bolsonaro soltou uma ironia para os seus fãs na porta do Palácio do Alvorada, afirmando que “segundo pesquisa, as mulheres não votam em mim” – reforçando a desconfiança que sempre jogou sobre levantamentos de opinião que lhe são desfavoráveis. Mulheres votam sim em Bolsonaro, mas elas, segundo o BTG/FSB, são quase metade das que escolhem Lula.