A nova edição da Carta aos Brasileiros parece ser mais do que um ato decisivo para a derrota de Jair Bolsonaro e a vitória da democracia. “Foi a coisa mais importante que aconteceu nos últimos anos para barrar a loucura bolsonarista”, afirma o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, que assinou o documento. Ele ressalta o fato de que, entre as pessoas que estão assinando, muitas apoiaram e votaram em Bolsonaro em 2018.
“Mas o desastre foi de tal ordem que restou um pouco de bom senso, sensatez e espírito democrático nessas pessoas”, acrescenta. Para ele, “a carta é um manifesto que torna muito difícil a reabilitação de Bolsonaro, já que reúne diferentes grupos da sociedade, empresários, artistas e personalidades”. O documento já está assinado por cerca de mais de 400 mil pessoas até a manhã desta sexta-feira (29).
O economista comentou também o manifesto Em Defesa da Democracia e da Justiça, em elaboração pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), e que terá o apoio da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), conforme anunciou ontem (27) a entidade do sistema financeiro. “Sobre a Fiesp, eu não tinha dúvida nenhuma (de que iria se manifestar), por causa do presidente, Josué, uma pessoa progressista, democrática e inteligente”, observa Belluzzo, sobre Josué Gomes da Silva, novo presidente da entidade da indústria desde janeiro.
O manifesto de empresários e de banqueiros é previsto para ser divulgado no dia 11 de agosto, em cerimônia na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), mesma data em que será a lançada oficialmente a Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito no pátio do Largo São Francisco.
Manifesto “retumbante” e general “dúbio“
O historiador Manuel Domingos Neto – também signatário da Carta aos Brasileiros e Brasileiras – considera o movimento de grande significado. “Esse manifesto da Faculdade São Francisco foi retumbante. Pegou muito bem. A receptividade tem sido maravilhosa e é um dado conjuntural de muita relevância. Acredito que vai chegar a muitos mais”, avalia.
Domingos Neto comenta também a declaração do general Luís Carlos Gomes na despedida da presidência do Superior Tribunal Militar (STM), nesta quarta-feira (27). “Nós temos uma Justiça Eleitoral. Ela é responsável pelo funcionamento (das eleições). A nossa missão é diferente, não temos que nos envolver em nada disso. Nós temos que garantir que o processo seja legítimo. Essa é a missão das Forças Armadas“, afirmou o militar.
Na opinião do historiador, a fala de Gomes é “absolutamente dúbia, não sei se por despreparo de linguagem ou se intencional”. Ele acredita mais na dubiedade intencional do general. “Eles não primam exatamente por uma comunicação escorreita. Mas a declaração é dúbia”, diz. “Não é missão das Forças Armadas garantir legitimidade a processo nenhum. O que ele declara é que elas seriam legitimadoras do processo. Quem tem que garantir é a Justiça”, conclui.
O professor de Ciências Sociais da PUC de Campinas Vitor Barletta Machado destaca a importância dos diferentes setores sociais se colocarem publicamente, num momento histórico em os que ocupam o poder “estão fazendo de tudo para provocar medo”. “Quando se lança uma carta como essa, e você se expõe, coloca seu nome, e as pessoas dizerem ‘eu não aceito isso e meu nome está assinado’ aqui tem uma importância muito grande.”
Bolsonaro sentiu o golpe
O presidente Jair Bolsonaro (PL) demonstra ter sentido o golpe. Disse, nesta quarta, que não precisa de “cartinha” para defender a democracia, mesmo sem ser citado no manifesto. “Vivemos em um país democrático, defendemos a democracia, não precisamos de nenhuma cartinha para dizer que defendemos a democracia”, declarou.