Enquanto vai-se esclarecendo esta história do vazamento de conversas entre autoridades da Justiça, dados novos da investigação da Polícia Federal vão forçando a esquerda a explicar suas implicações com os hackers presos. E as justificativas que aparecem revelam uma impressionante facilidade da esquerda para obter informações mais que privilegiadas, muito mais que isso, afinal foram conversas privadas que caíram nas mãos de uma oposição aturdida, que há muito tempo não faz política sem que seja pela perturbação.
Walter Delgatti Neto revelou que Manuela D’Ávila, ex-candidata a vice do petista Fernando Haddad, foi a intermediária entre ele e Glenn Greenwald. E o que se viu foram bons corações ocupados apenas em fazer justiça. As coisas caem no colo desta esquerda, surgem em telefonemas inesperados. Embora o material seja de difícil captação, com o risco e o tempo exigidos para a devassa nas conversas alheias, além do óbvio custo financeiro, tudo é ofertado sem nenhum pagamento ou qualquer outro compromisso. Foi desse jeito que o material foi do hacker até as mãos de Glenn Greenwald, para a publicação em seu site, o The Intercept. O acerto passou antes pela vice-poste Manuela D´Ávila, ela também uma inocente empenhada na busca pela verdade.
Manuela ainda deu uma escutada em um diálogo de promotores, oferecido pelo hacker para confirmar que tinha uma bomba para oferecer. Com isso, além de intermediária de um crime, ela se comprometeu escutando parte das conversas roubadas. Nem passou pela cabeça dela seu papel de vice-presidente na chapa que perdeu uma eleição para o candidato que obviamente tem seu governo como alvo político nesses vazamentos. Como eu já disse, a Manuela é inocente demais, diria até uma santa, não fosse ela uma líder comunista do partido mais agressivo desta ideologia no Brasil, o notório PCdoB.
O hacker ligou para Manuela, tiveram um rápido lero. Então ela passou o número do telefone de Glenn Greenwald. Fácil, não? E só um sortudo como Greenwald pode ganhar, pautas amarradinhas desse jeito, que chegam até ele na maciota, como se dizia antigamente.
Sorte pode não lhe faltar, mas a verdade é que Greenwald não deixa de ser precavido. Aqui, no Brasil, ele tem gritado alto, exigindo respeito à liberdade de imprensa, dizendo que está sendo perseguindo, dando de dedo na cara de altas autoridade do governo. Seu site é um estimulador desses valentes que vivem chamando os outros de fascistas, sem que existam bandos de fascistas marchando pelas ruas do país e sentando a mão na cara de quem é contra o fascismo. Nunca foi tão fácil ser anti-fascista.
É sobre este “senso de precaução” de Greenwald que chamo a atenção. O dono do The Intercept tem uma ligação antiga com Edward Snowden, amizade que por sinal começou também com um gesto de coração, no oferecimento de documentos secretos do governo americano, que deu o impulso inicial para a fama internacional do dono do The Intercept. Pois bem, depois Snowden teve que fugir dos Estados Unidos. Exilou-se na Rússia, onde isso só é possível se Wladimir Putin estiver de acordo.
O governo de Putin não costuma fazer só cara feia para seus adversários. Na Rússia prendem jornalistas, pressionam pesadamente publicações. Agentes do governo perseguem quem escreve o que o governo não gosta. Sobre o governo de Putin existem acusações bem fundamentadas de assassinatos até no exterior. Por isso, quando Putin acolhe alguém, como fez com Snowden, não é exatamente por seu apreço pela liberdade de expressão ou pela defesa do sigilo da fonte.
Um caso muito conhecido na Rússia é o da jornalista Anna Politkovskaia, morta em outubro de 2006. Ficou conhecida como crítica do governo Putin em seu desrespeito aos direitos humanos, especialmente por suas matérias sobre a província rebelde da Chechênia, onde ocorreram horrores cometidos pelo Kremlin. Foi morta a tiros e até hoje não se sabe quem foi o mandante. Politkovskaia é apenas um dos nomes, de uma extensa lista de jornalistas assassinados ou que sofreram violência — claro que apenas os críticos do governo Putin.
Pois foi exatamente o governo Putin que acolheu e protege até agora Snowden, muito amigo de Greenwald. Snowden até gravou áudio em apoio à campanha do marido de Greenwald para deputado. Na Rússia certamente o dono do The Intercept não poderia atacar Putin ou alguma autoridade do Kremlin, como vem fazendo com o ministro Sergio Moro e os promotores da Lava Jato. Aliás, nem aqui do Brasil ele comenta a má situação dos jornalistas na Rússia. Imaginem o que seria de Greenwald na Rússia, explorando politicamente conversas particulares de autoridades ligadas Kremlin, como faz aqui no Brasil. E faz isso tendo inclusive a liberdade de se dizer perseguido. Bem, mas isso jamais aconteceria. Como eu disse, mais que sortudo, Greenwald é precavido.