Um homem de fé

Paulo Roberto Ferreira Motta emocionou-me com o texto que publicou, na semana passada, aqui no Zé Beto e no Solda Cáustico. Conheço-o há algum tempo, tive a honra de trabalhar em sala ao lado da dele no escritório dos mestres Romeu Felipe Bacellar Filho e Renato Andrade. Comungávamos os mesmos ideais. Ou quase todos. Nossas divergências eram pontuais e insignificantes. Descobri as várias qualidades do Paulo. E alguns dos seus defeitos. Mas a chegada do pequeno Bruno e o falecimento da sua querida Raquel, tão cedo e tão doído, afloraram em Paulo um sentimento que eu desconhecia ser tão forte: a fé.

Admiro as pessoas que creem. Sobretudo, num tempo e num mundo tão carente de fé. Mais do que isso, admiro pessoas de fé e que tem a coragem de confessá-la, sem receio de ser incompreendido, ser ridicularizado ou ser desprezado.

Paulo Motta, num momento de desabafo e de saudade, fez tudo isso. Sem nenhum constrangimento, confessou que aprendeu que Jesus aparece (e atua) todos os dias, mesmo que nós não o reconheçamos. Aprendeu também a reconhecê-lo e a compreendê-lo. Ajudou-o as lições colhidas em Santo Antônio de Loyola, no padre basco Pedro Arrupe, da Companhia de Jesus, em Porto Alegre; em dom Helder Câmara, em Paulo Evaristo Arns, nos primos Lorscheider, em Luciano Mendes de Almeida, em Pedro Casaldáliga, em Tomás Balduíno, em Cláudio Hummes, em Júlio Lancelotti e no atual Papa Francisco. Sua fé fortaleceu quando conheceu Raquel, uma católica muito melhor do que ele.

Hoje, Paulo está convencido de que Jesus aparece todos dias, em todos os lugares e em todos os momentos. Pode ser no sorriso do filho Bruno ou quando ele lhe dá bom dia. E aí, repete o pensamento de Rubem Alves, que também é o meu: Deus está presente na luz do dia, nas flores dos jardins, nos mares e nas montanhas, nas florestas, nas praças, nos parques, nos pores-do-sol, nas estrelas e em tudo o mais que Ele nos deu para desfrutássemos pelo livre arbítrio.

Paulo confessa ter encontrado Jesus em várias ocasiões. A mais recente, foi no domingo, na entrada de seu condomínio. Estava triste e carregava uma pesada cruz. Pediu-lhe um prato de comida. Como não o tinha naquele instante, Paulo deu-lhe o tinha: uma broa de milho, tamanho grande, que acabara de comprar para comer no café da manhã e no horário da tarde, com uma fatia de queijo da Serra da Canastra. Entregou-lhe a broa inteira, para surpresa do pedinte. Já deveria ter recebido vários nãos naquela manhã. Ele recebeu-a com felicidade, atravessou a rua, sentou-se no meio-fio, abriu o pacote e começou a saciar a fome. Paulo notou que a cruz que ele carregava ficou um pouco mais leve.

Fiquei feliz ao ler o texto/depoimento de Paulo Motta. Ele me fez bem, pelo conteúdo, pela sinceridade, pela audácia do autor em expô-lo, num mundo tão sem amor, tão sem fé e de tão pouca esperança. São momentos como esse que fazem a diferença.

Ave, Paulo!

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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