Em nota o PT classifica a condenação de Lula como “um dia trágico para a democracia no Brasil”. De acordo; em gênero, número e propina. Mas uma tragédia não é algo que cai do céu, que vem do nada. Ela germina e um dia eclode. A condenação de Lula foi uma tragédia, para ele, sem dúvida, para o PT, igualmente. Porém uma tragédia maior para o Brasil: não pela condenação de um ex-presidente, ou pela anterior destituição da presidente – e até pela eventual reeleição do atual presidente, a morte anunciada para futuro próximo.
Tragédia para o Brasil porque a cada quatro anos se repete como praga do Egito, sempre resultado da insistência congênita das elites em manter o país a serviço de sua cupidez e de sua falta de patriotismo. A condenação de Lula não surgiu do nada, é efeito cumulativo de malfeitos, dele, dos que o antecederam e daqueles com quem ele se aliou. Lula jogou, como é o espelho de sua vida, apostando na imunidade, que não tinha, no seu halo de santidade, que é falso. Calhou de Lula ser colhido como exemplo.
O habeas corpus negado a Lula deveria ser negado a tantos aliados seus, hoje convenientemente refugiados no foro privilegiados e nas alianças de compadrio e autoproteção próprias de Brasília e elites adjacentes. Não foi uma tragédia; a condenação de Lula foi a exaltação da democracia no Brasil, uma epifania. Malgrado o dissabor que causa aos cegos, fanáticos ou utilitários, que dizem acreditar na santidade – e no calvário – de Lula. Se Lula foi sacrificado, não foi pelo Brasil, que cabem muitos outros em sua cela.