“Quando Falta o Ar”, documentário dirigido pelas irmãs Helena Petta e Ana Petta, retrata o trabalho de profissionais de saúde do SUS durante a pandemia de Covid-19. O documentário ganhou o 27º Festival Internacional de Documentários, o mais importante da América Latina, e está na lista de candidatos ao Oscar.
Da lista de candidatos, apenas cinco serão indicados ao Oscar. A seleção é difícil, competitiva e as irmãs Petta enfrentam dois desafios adicionais.
Primeiro, parece haver uma fadiga sobre o tema, ainda que a pandemia não tenha acabado. Entretanto, não se pode calar, enterrar o passado. É preciso mostrar esse documentário ao mundo. A pandemia é uma cicatriz profunda na história recente da humanidade e, ainda que não esteja purgando como antes, cobri-la só fará piorar a situação.
No Brasil, por exemplo, novas variantes estão circulando, os casos voltaram a subir, porém a procura por vacinas anda a passos lentos, e as máscaras foram deixadas de lado. Péssima combinação! Por mais que já tenha sido dito, cabe lembrar que mesmo quem teve Covid-19 sem complicações pode desenvolver sequelas. Portanto, relaxar e não se incomodar caso tenha Covid-19 com sintomas leves não é, e nunca será, uma boa opção.
Segundo, há uma intrincada e cara articulação que normalmente é feita para dar visibilidade a filmes e documentários candidatos ao Oscar. Exibições, recepções, jantares etc. As irmãs Petta fizeram esse documentário com uma equipe e um orçamento que em nada se assemelham ao das grandes produções e têm recursos limitados para divulgação. O que falta de recurso sobra de coragem, dedicação, sensibilidade e compromisso com o SUS. Afinal, “é preciso ter força, é preciso ter raça, é preciso ter gana, sempre”.
Algumas exibições foram feitas em Nova York, Boston e Los Angeles. No Brasil, o documentário estará em exibição no começo de 2023. Aos poucos a hashtag #SUSnoOscar vai se espalhando. Mas é difícil saber como os membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas decidem ao que assistir.
Uma eventual indicação ao Oscar de “Quando Falta o Ar” talvez seja considerada pela imprensa internacional como uma zebra. Eu chamaria de reconhecimento justo!
Reconhecimento do trabalho de médicos de família, agentes comunitários de saúde e outros profissionais que trabalham em hospitais, nas comunidades, nos presídios e nas unidades básicas de saúde. Um trabalho de rotina, ignorado por muitos que não conhecem, de fato, o SUS.
Um trabalho que, durante a pandemia, demandou uma energia física e mental que esses profissionais jamais imaginaram ter. Um trabalho retratado no documentário de forma sensível e humana, como a atenção básica deve ser.
Reconhecimento de uma das maiores conquistas sociais da nossa sociedade, o SUS, um sistema de saúde que, apesar de tudo que aconteceu nos últimos anos, salvou milhares de vidas durante a pandemia. O SUS foi a resistência contra o mal. Está ferido, mas está vivo!
Reconhecimento da força de duas mulheres que se aventuraram pelos cantos do Brasil, no auge da pandemia, porque entenderam a importância social e histórica de documentar a resiliência desses profissionais de saúde e do SUS.
Uma eventual indicação ao Oscar de “Quando Falta o Ar” amplificaria a importância do trabalho humanizado e comunitário na atenção à saúde.
Indicado ou não, “Quando Falta o Ar”, além de um registro histórico de valor inestimável, é uma homenagem às quase 700 mil vítimas da Covid-19, que perderam a vida por causa da cloroquina, do desgoverno que veio de cima e da falta de vacina. Por tudo isso, #SUSnoOscar.