Aderi de imediato à ideia, não apenas por conhecer a seriedade de propósitos de Dante, mas, sobretudo, pela qualidade dos candidatos definidos pela sigla para o pleito municipal que se avizinhava: Wilson Bueno, o preclaro trovador da Vila Tingui e o venerável Dalton Trevisan, vampiro das madrugadas curitibanas. Com Bueno e Dalton, Curitiba seria outra. E nós também.
Em um texto publicado na ocasião no falecido O Estado do Paraná, dei-lhes o meu apoio público e previ que, desde a campanha, tudo seria diferente. Ao invés da cansativa ladainha dos buscadores do voto popular pela tevê, Wilson Bueno recitará os clássicos e também os populares, alguns de sua própria autoria, sob a proteção celeste de um trio santificado de dimensão insuperável: São Leminski, São Jamil e São Karam. Em compensação, Dalton Trevisan se manterá calado, não participará de comícios e não concederá entrevistas.
Uma vez eleitos, Bueno recuperaria a alegria de Curitiba, perdida após o recolhimento do animado Raphael Greca de Macedo ao exílio requianista (acontecera na época). Uma de suas metas principais será a criação da Secretaria do Riso, com o propósito não apenas de institucionalizar a graça da política local, mas também o tradicional bom-humor curitibano. Dalton continuará em obsequioso silêncio, agindo, como de costume, nas sombras.
Outra obra do novo alcaide poderia ser o relançamento da revista Nicolau – a melhor publicação cultural que esta parte da civilização já conhecera, depois de Joaquim, de Dalton, e que acabou sendo consumida pela inveja e ignorância dos (des)animadores culturais do último mandato lerneriano. Evidentemente, Joaquim ou Nicolau ressurgirá em nova fase, integrado aos novos tempos. Muito provavelmente, se chamará Quinzinho (ou Lalau) e terá na direção o mestre da charge e do chiste Luís Antônio Solda.
Sabe-se que a dupla Bueno-Dalton já pensa na formação da futura equipe de governo. Quer dizer: Wilson e Dante se desincumbem de tão importante tarefa, posto que Dalton ainda não emitiu um pio sequer. Longe de mim atrever-me a dar palpite, mas creio que não poderão ser esquecidos nomes como Jaguara, aquele animador de velórios, descoberto por Dante lá em Guarapuava. Outro “quadro” indispensável seria o Nego Pessoa, andarilho militante e conhecedor-mor, de todos os buracos e desníveis das calçadas curitibanas. Para a Casa da Memória, ninguém melhor do que o “curitibaiano” Anthony Leahy, um conterrâneo de Jorge Amado que conhece a história e as estórias de Curitiba mais que todos os curitibanos de berço reunidos.
Com Wilson Bueno e Dalton Trevisan o Palácio 29 de Dezembro deixaria aquele ar de seriedade e seria rebatizado de Palacete do Tico-Tico, que se situa atualmente na Edmundo Mercer, onde residem o nosso trovador e o seu sossego, e uma inestimável prática será recuperada: as tertúlias d’antanho, sempre às cinco da tarde, em homenagem à poetisa flamenca Conchita de Las Flores, tendo como patronos in memoriam os inolvidáveis Vasco Taborda Ribas e Helena Kolody.
Curitiba terá, também, como já anunciado pelos candidatos (ou por um deles, já que o vice, como se sabe, é mudo), o seu Chatódromo, obra de primordial importância, onde serão recolhidos, já no primeiro dia da nova gestão, “os jovens envelhecidos pela ignorância”, os velhos incapazes de retornar à infância, “os professores da des-inteligência”, autores de livros de auto-ajuda e todos aqueles que “empresteiam” esta outrora fulgurante Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais.
Não se sabe o que aconteceu. Presume-se que Dante Mendonça tenha acordado.