Um susto

A primeira manhã deste novo ano não foi das melhores para mim. É que minha gata, chamada Gatinha, sumiu.

Moro em Copacabana, a uma quadra e meia da praia e a uma quadra do Copacabana Palace, isto é, não muito longe do palanque e do local onde se realizam os shows do final do ano. Ali se junta uma multidão de espectadores. Não preciso dizer o que acontece à meia-noite do dia 31 de dezembro, quando se deflagra o fulgurante espetáculo da queima de fogos, comemorativo da passagem do ano.

Maravilha! Mas nem tudo é de fato maravilhoso para quem, como eu, mora onde moro.

Mal anoitece e as pessoas, às dezenas, às centenas, começam a passar sob minha janela em direção à praia. E esse número vai crescendo à medida que se aproxima da meia-noite. Já eu, aqui no meu apartamento, mal suportando o calor infernal, não tenho como ir para a casa de alguém, nem ninguém consegue vir para minha casa.

O bairro está praticamente fechado. Cláudia, minha companheira, que mora no Flamengo, não teve como vir até aqui a pé, já que a distância é grande e o calor insuportável. Lamentamos a situação por telefone e decidimos, dentro em breve, mudar de bairros.

Conversa de tempo de crise. A verdade é que minha neta Celeste e seus dois filhos, que já estavam no bairro, vieram para cá e aqui ficaram até pouco antes do foguetório, quando foram para a avenida Atlântica. Eu, que não suporto barulho, fiquei aqui mesmo, vendo o espetáculo pela televisão.

O locutor afirmava que 2 milhões de pessoas ocupavam a praia de Copacabana para assistir à queima de fogos. Exagero. A televisão, anos atrás, afirmava que eram 1 milhão de espectadores; depois, passou para 1 milhão e meio e, nos últimos anos, aumentou para 2 milhões. Mas parece que vai parar por aí porque, senão, em breve haverá mais gente assistindo ao foguetório do que a população da cidade.

gullardois

Ferreira Gullar – Folha de São Paulo

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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