Um vereador que pensa que é Richelieu ou Bismarck
Muitos governantes têm à sua sombra um homem frio, discreto e leal que, por sua capacidade de observação e análise, os orienta sobre o que pensar, dizer ou fazer. É o poder por trás do trono. O cardeal Richelieu (1585-1642) foi esse homem para o rei Luís 13 na França do século 17. O chanceler Otto von Bismarck (1815-1898), para o imperador Guilherme 1º na Alemanha do século 19. E o folclórico Rasputin (1869-1916), para o czar Nicolau 2º na Rússia —nem sempre o trono se dá bem.
No Brasil, José Bonifácio (1763-1838) foi uma das forças por trás do príncipe d. Pedro no Fico e na Independência. O poeta Augusto Frederico Schmidt (1906-1965) soprou a Juscelino Kubitschek, entre outras, o “50 anos em 5”. Mas ninguém bate o advogado Jorge Serpa(1923-2019): pegava o telefone e falava diretamente com JK, Jango, Tancredo, Collor, Itamar, Sarney e FHC. Era um homem de grande influência. Mas apenas dez amigos o levaram ao túmulo outro dia.
Hoje, no Brasil, temos um candidato a esse posto. É o vereador Carlos Bolsonaro (PSC), atualmente em seu quinto mandato na Câmara Municipal do Rio —cidade que ele abandonou, e logo agora, em que ela passa por uma crise atrás da outra.
Para que serve um vereador? Para legislar, fiscalizar e morder os calcanhares do prefeito ou, ao contrário, lhe fazer festinhas. Não lhe compete tapar buracos, mas pode obrigar o alcaide a tomar providências. Suas ocupações compreendem desde o Orçamento anual até a ocupação irregular das encostas e o esgoto entupido. Sua jurisdição é municipal. Só deveria ir a Brasília a passeio, e olhe lá.
Mas Carlos Bolsonaro, filho do presidente, não sai do Planalto e não larga o pai por um instante. Tuíta desaforos, demite ministros, desmoraliza generais. Deve julgar-se um Richelieu, um Bismarck mirim. Mas, pelo ritmo da tragédia, está fazendo lembrar Brutus, que César via como um filho.