Simone Tebet não foi eleita, mas foi a grande vitoriosa do 1º turno das eleições presidenciais deste ano. Ainda novata nas lides políticas nacionais, desconhecida pela maioria dos eleitores fora de seu estado natal, a sul-matogrossense fez bonito nas urnas. Com quase 5 milhões de votos, ganhou força política, suplantou Ciro Gomes e é hoje uma liderança cobiçada por todos, menos pelo seu próprio partido, que a deixou à deriva nas eleições, como era de se esperar de uma sigla que já foi coberta de glória e hoje naufraga a olhos vistos na mediocridade, para dizer o mínimo.
Simone, filha do ex-senador Ramez Tabet, saiu-se bem em todos os debates a que compareceu, sabia o que dizia e como dizer, falava claro, tinha programa de governo, transmitia sinceridade e esperança. Sabe também o que aconteceu durante a campanha eleitoral e no dia 2 de outubro. Em entrevista à Folha de S.Paulo, expressou: “Foi a polarização entre duas correntes ideológicas, com disputa pelo poder rasa, em que em nenhum momento o eleitor teve segurança de saber quais eram as propostas e soluções concretas para os problemas do Brasil”.
Continuou: “… o que se viu foi o que temos acompanhado ao longo desses três anos e meio: um país dividido, um discurso de ódio raso, contaminado por face news…”.
Para ela, Lula deixou de ganhar no primeiro turno pela falta de clareza de suas propostas: “O eleitor sabe o que foi o governo do PT, com os seus avanços e com os seus defeitos. Ele sabe o que eles fizeram e o que deixaram de fazer. Mas o eleitor estava esperando a fala (de Lula), não no programa de televisão, mas a fala nos debates, nos palanques, uma fala do Brasil do futuro”.
No segundo turno, Simone Tebet está dando o seu apoio a Luiz Inácio. Mas não sabe o que fará ao final de seu mandato de senadora. “Sigo querendo ajudar o Brasil da forma como posso” – adianta, emendando: “Sou antes de tudo uma professora, uma mulher e uma mãe”.
Queira ou não, no entanto, ela é uma força política emergente, que merece especial atenção. Em 2026, estará na flor dos 56 anos de idade e uma nova disputa presidencial acontecerá. Desde já, porém, está ciente de que “com as mulheres brasileiras houve uma aproximação de ideias, elas se sentiram representadas de alguma forma com aquilo que eu tinha, com meus desabafos, minha indignação, com as minhas propostas. (…) Acredito que tenha plantado boas sementes”.
Simone ofereceu alguns de seus planos à campanha petista. “São propostas factíveis, concretas, fáceis de serem executadas e fundamentais”. Justifica: “A gente precisa cuidar das nossas crianças, na hora certa, na primeira infância; devolver para escola os nossos jovens que agora estão afastados, indo para a marginalidade (…). A gente precisa zerar as filas represadas (do SUS) e aprovar uma lei que garanta igualdade salarial”.
Apenas uma coisa assusta Simone e não é o caráter conservador do Congresso Nacional, “porque isso faz parte da democracia”. O que a preocupa são coisas como o “aumento da bancada da bala, de pessoas que têm visões mais extremistas à direita, ao lado de inexperientes que vêm com pautas muito específicas (…). Essa hegemonia política, do apoio político do Legislativo, é a antessala da nova autocracia, da nova ditadura branca, que é velada, que é mais grave porque ninguém vê”.
Em 2023, Simone Tebet estará fora do Congresso Nacional. Mas, com certeza, não fora da trincheira política, em cargo público ou não, de onde disparará seus pensamentos, suas críticas e suas proposições em favor de um país melhor e mais justo. O Brasil não pode prescindir dela.