“Um país se faz com homem e livros” – garantia Monteiro Lobato. Antes dele, o filósofo romano Cícero já dissera que “Uma casa sem livros é um corpo sem alma”. Que dizer, então, de um mundo sem livros?
O fenômeno é mundial. Não é coisa de Brasil. Tudo bem, temos Buenos Aires, muito bem lembrado por Raul Urban, ainda forrada de livrarias. Mas até quando?
Quem tem se afastado da cultura, submetendo-se à tecnologia dominante é o ser humano. De repente, estamos deixando de ler, de escrever, de conversar e, pior de tudo, de pensar. É mais prazeroso manter os olhos fixos na tela do celular e trocar mensagens imbecis com estúpidos da mesma espécie.
Ler dá trabalho. Pensar, então, é algo insuportável.
O notável moçambicano Mia Couto, em intervenção na cerimônia de Prêmio Internacional dos 12 Melhores Romances de África, em Cape Town, em junho de 2002, resumiu o tema com a sabedoria que lhe é peculiar: “O escritor não é apenas aquele que escreve. É aquele que produz pensamento, aquele que é capaz de engravidar os outros de sentimentos e de encantamento”.
Por tudo isso e muito mais é que se deve lamentar o falecimento de Pedro Herz. Ele foi, como registrou Zé Beto neste espaço, “responsável por firmar, no coração de São Paulo, uma das livrarias que ajudaram a definir o cenário cultural da cidade nas últimas décadas, palco de inúmeros lançamentos, debates e peças de teatro, além da venda de livros”.
Antes dele, a mãe, Eva, fugindo da perseguição nazista, criou, em 1947, o embrião da Cultura, uma biblioteca circulante, dedicada ao empréstimo de livros. O objetivo era sobreviver, mas acabou oferecendo conhecimento.
A Cultura de Eva e Pedro Herz esteve também em Curitiba. Durante um bom tempo, ocupou espaço no 3º piso do Shopping Curitiba. Infelizmente, dificuldades financeiras levaram a livraria a um pedido de recuperação judicial em 2018 e, depois, a um pedido de falência.
Como dizem os maledicentes de sempre, “livro não serve para nada, além de ser caro”. Pois é. Logo, descobrirão que, sem os livros, tudo ficará muito mais caro, e nem a esperança nos restará.