Umbigos e axilas

Hollywood custou a deixar que suas estrelas tirassem a roupa na tela. Até que, por fim, os tabus caíram

Há dias, morreu nos EUA uma atriz americana de nome francês, Yvette Mimieux, de quem o New York Times fez um simpático necrológio. Era uma lourinha tipo ingênua. Teve carreira relâmpago no cinema e seu principal papel foi o da garota que Rod Taylor encontra ao chegar ao ano 800.000 (isso mesmo) no filme “A Máquina do Tempo” (1960), de George Pal. Yvette tinha 18 anos e prometia muito, mas os estúdios logo a trocaram por Tuesday Weld, Sue (“Lolita”) Lyon e Jane Fonda, mais chegadas às ousadias da época.

Pois acabo de saber pelo NYT que Yvette Mimieux foi, pouco depois, a primeira atriz a mostrar o umbigo numa série de TV. E, se Yvette topou mostrar seu umbigo, não era tão ingênua assim. Não que umbigos fossem inéditos na vida real —​as praias do Rio já viviam cheias deles. Para as famílias americanas é que eles ainda deviam ser tabu.

Hollywood, à sua maneira, sempre tentou driblar esses tabus. Em 1934, quando Clark Gable tirou a camisa em “Aconteceu Naquela Noite”, de Frank Capra, houve um frisson na plateia ao descobrir que ele não usava camiseta por baixo. Mas levaria 26 anos para que uma grande estrela americana aparecesse “nua” na tela (embora não se visse nada): Janet Leigh, na cena do chuveiro em “Psicose” (1960), de Hitchcock. E outros cinco para Hollywood mostrar nitidamente um par de seios. Foi em “O Homem do Prego” (1965), de Sidney Lumet, e, mesmo assim, era uma figurante sem crédito.

No resto do mundo era bem diferente. Brigitte Bardot em “E Deus… Criou a Mulher”, de Roger Vadim, em 1956, e Norma Bengell em “Os Cafajestes”, de Ruy Guerra, em 1962, já tinham mostrado tudo –e o mundo vibrou.

Mas uma façanha ninguém tira de Hollywood. Nenhum ator exibiu axilas tão obscenamente depiladas quanto Jeffrey Hunter, no papel de Jesus Cristo em “O Rei dos Reis” (1961), de Nicholas Ray. A cena da cruz exigia.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
Esta entrada foi publicada em Ruy Castro - Folha de São Paulo. Adicione o link permanente aos seus favoritos.
Compartilhe Facebook Twitter

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.