O Canini tem sido lido por crianças de todas as idades e tem nos acompanhado quando vamos avançando na idade. É daqueles artistas que conseguiram contaminar a realidade que retratam com seu próprio trabalho, suas soluções gráficas, por sintéticas e claras, acabam por nos ajudar a olhar as coisas e passam a ser uma das maneiras com que enxergamos o mundo. E várias gerações, sejam desenhistas ou não, tem aprendido a ver com o Canini. O que acontece com esse tipo de artista é que eles se misturam com a paisagem, terminamos por esquecer quem foi que criou essa maneira de ver, parece que é nossa, é a verdadeira obra prêt-à-porter.
Não se trata aqui de um retrato fiel do mundo, é um retrato interferido, que fique bem claro. Tem tanto de realidade quanto de sonho, idealismo e uma vontade gentil de transformar. Tem tanto de ideal e real a favela do Zé Carioca quanto o pampa que ele retrata semanalmente no blog Tinta China. Nas duas paisagens se misturam nostalgia e dignidade, a simplicidade do casebre e a certeza da figueira. Características que são do mundo que Canini vê e do próprio Canini que não negou ao mundo o que ele pode ter de bom.
Isso e seu desenho cristalino são motivos suficientes para nos sentirmos sortudos por ser o Canini um dos mestres que nos criou. E nos obriga a reconhecer que sem o Canini o Brasil seria outro. (Fabio Zimbres).