O também ex-seminarista Roberto Campos disse certa vez, numa de suas famosas boutades, que no Brasil a burrice tem um passado glorioso e um futuro promissor.
O jornal O Estado do Paraná demitiu o cartunista Luiz Solda. Motivo: ele fez uma charge mostrando um macaco dando banana ao presidente dos EUA, Barack Obama. O desenho mostra um macaco fazendo o simbólico gesto de “banana” com os braços e traz a inscrição: “Almoço para Obama terá baião de dois, picanha, sorvete de graviola…e banana, muita banana”. Seus acusadores dizem que ele chamou de macaco o presidente norte-americano. Solda disse: “Jamais faria isso. Nas eleições, eu usei camiseta do Obama, vi que era a renovação”.
Foi um terrível erro de seus editores. O tema é pertinente, a brincadeira é muito apropriada, vez que o Brasil durante muitas décadas foi chamado pelos EUA de Banana Republic. Sem contar que expressões “politicamente corretas” impedem o humor. Já escrevi sobre o tema no Observatório da Imprensa. Volto a ele nessas linhas.
Em minha infância sofri um tipo de preconceito étnico muito singular. Como era moreno, da cor do meu pai, de ascendência portuguesa, era chamado preconceituosamente de “caboclinho”. E, por outros, de “gringuinho”, “filho daquela italiana”: a minha mãe era filha de italianos. A escola representou redenção étnica e social. Passei a ser respeitado por uns e outros pelo meu desempenho escolar. Os boletins acabaram com esses preconceitos.
Em recente reunião de intelectuais, um dos escritores que mais combate o racismo referiu-se a Barack Obama como “ fabuloso negão”. E quando o escritor Václav Havel era presidente da Tchecoslováquia, e depois da República Tcheca, dizíamos tratar-se de um “ polaco maravilhoso”. E ele era tcheco!
Se escrevêssemos isso, seríamos demitidos também? Que horror esse “ politicamente correto”! Vai matar o humor, a graça, a brincadeira!
Vocês já notaram que Barack Obama jamais se vangloria de ser o primeiro presidente negro dos EUA? Inteligentíssimo e bem formado, ele sabe que apelar para a cor o diminui muito! Ele não foi eleito por ser negro, foi eleito por ser bem preparado, culto! Representou um avanço na sociedade americana, que aos poucos deixa de ser excludente e passa a inclusiva, respeitando a pessoa como ela é, independentemente de sua cor, sua opção sexual, sua religião etc.
Pelo mesmo motivo, mulheres e gueis estão sendo eleitos mundo afora para cargos importantes, não por serem o que são, mas porque a sociedade está diluindo preconceitos milenares.
Por que só se lembram de punir? Cá para nós, esse “ politicamente correto” vai deixar o mundo muito sem graça. Sem contar que, na bela síntese de Otávio Ianni, “o polaco é o negro do Paraná”, e os mesmos que criticam racismo onde não existe, jamais se incomodam quando as etnias atingidas são outras!
Deonísio da Silva, jornal Primeira Página, São Carlos
5 respostas a Vale a pena ler de novo – Burrice: passado glorioso, futuro promissor