Vale a pena ver de novo

É sempre a lesma lerda. A ficção é confundida com a realidade e todo mundo se alvoroça. É o caso do livro ‘O Código Da Vinci’. Não li, já digo de cara. Mas a polêmica que está causando eu acompanho. O Vaticano rompeu o silêncio pra dizer “não leiam nem comprem ‘O Código Da Vinci’”. Pode? Um importante cardeal disse isso. E completou dizendo que o livro é um ‘castelo de mentiras’. Oras, mas ele leu! E tirou suas conclusões. Como pode querer impedir que milhões de pessoas leiam e acreditem ou não no que está escrito? O Vaticano pensa que as pessoas engolem tudo o que lêem. Que pura ilusão! As pessoas acreditam em tudo o que a Igreja Católica quer porque têm Fé. Só isso. Se a gente pensasse tudo, examinasse tudo, pesquisasse tudo… poderia descobrir que tudo é uma farsa. Ou não. Dogmas, dogmas, dogmas. Só isso. Acredite ou vai pro Inferno.

E pregação pesada em todas as ocasiões. Uma publicidade massificada e martelada diuturnamente. A Igreja quer que a gente acredite que um pedaço de pano manchado de sangue cobriu Cristo morto. E resistiu por dois milênios sem ser devorado por bactérias e fungos. Outro pano resistiria? Tudo bem. Acredita quem tem Fé. Agora querem desacreditar milhões de leitores de um livro de ficção! Ora, uma pessoa escreveu baseando-se em suas próprias crenças e pesquisas. Se o livro faz sucesso é por puro acaso. Mais um fenômeno editorial. O autor fez questão de dizer que escreveu ‘apenas um romance, uma história de ficção’. Quem faz da ficção uma realidade é o leitor. E o problema é dele. Se ele decide que depois de ler não vai mais acreditar na Igreja Católica, problema dele.

Mas, calma, logo vem outro livro ‘provando’ os milagres todos, a existência de Deus, e outro fenômeno editorial acontece. Bem disse o grande Valéry: a única realidade da ficção é a ficção

Rui Werneck de Capistrano, editor de ficção

(*) A lista de livros proibidos pela Igreja Católica foi criada em 1556 e só abolida em 1966. Incluía Sartre e Pascal, imagine.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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