Preocupação com a volta à normalidade institucional está expressa nas escolhas
Lula apresentou o coração de seu futuro governo com os nomes que irão ocupar Fazenda, Justiça, Defesa, Casa Civil e Relações Exteriores. Escolheu Fernando Haddad para tourear o jogo bruto do dito mercado e os poderosos lobbies de setores empresariais que não sabem fazer negócios sem uma benesse do Estado aqui e ali.
Haddad tem couro duro para administrar pressões. Fortaleceu-se e amadureceu nas três últimas eleições que disputou e perdeu. Em 2016 e em 2018, concorreu no pós-golpe contra Dilma, no auge da perseguição lava-jatista a Lula e ao PT e em meio à ascensão da insânia bolsonarista.
Em tais circunstâncias, ajudou o partido a manter a cabeça fora d’água e a recuperar o fôlego para 2022. Mesmo perdendo, agora, na campanha para governador, Haddad reforçou a votação de Lula no pedregoso território paulista. Grandes realizações nos cargos que ocupou, convicções e lealdade o trazem ao posto que poderá credenciá-lo para 2026.
A preocupação de Lula com a volta à normalidade institucional está expressa nas escolhas de Flávio Dino, para a Justiça, e de José Múcio, para a Defesa. Múcio tem dificuldades imediatas. Quebras de hierarquia e ameaças de insubordinação nas fileiras turvam a transição. Atos golpistas na porta dos quartéis são anomalia que não pode perdurar até a posse, sob pena de desmoralização.
A necessidade de desbolsonarizar a PRF, que adquiriu certa feição miliciana, e “consertar” a PF (como disse Lula) está entre os desafios de Flávio Dino. O futuro ministro já mostrou que tem tutano e habilidade política de sobra. É autor da façanha de derrotar o clã Sarney, no Maranhão.
Por fim, Rui Costa, na Casa Civil, realça a importância da Bahia na vitória de Lula. E Mauro Vieira tem as qualidades necessárias para restaurar a credibilidade do Brasil no exterior. A escalação não está completa, mas foi começo promissor. Lula bota seu time em campo. A seleção brasileira volta de Doha. É da vida. Vamos em frente.