Quantos outros romances não estarão nesse caso? “A Maçã no Escuro” (1961), de Clarice Lispector, nasceu como “A Veia no Pulso”. Mas Fernando Sabino, ao lê-lo ainda no manuscrito, argumentou que poderiam entender “Aveia no Pulso”, o que não era bem a ideia. Não que o livro tenha a ver com maçãs no escuro —é só uma imagem para designar algo difícil de pegar, de apreender.
Muitos escritores já quase se estreparam no título. “A Ilha do Tesouro” (1883), de Robert Louis Stevenson, ia se chamar “O Cozinheiro do Navio”; “O Grande Gatsby” (1925), de Scott Fitzgerald, “Incidente em West Egg”; e “1984” (1949), de George Orwell, “O Último Homem na Europa”.
E há os casos de livros que tiveram seus títulos simplificados pelos leitores. “Robinson Crusoé” (1719), de Daniel Defoe, chama-se, na verdade, “A Vida e as Estranhas e Surpreendentes Aventuras de Robinson Crusoé”; “Frankenstein” (1818), de Mary Shelley, “Frankenstein, o Moderno Prometeu”; e “Alice Através do Espelho” (1871), de Lewis Carroll, “Através do Espelho… e o que Alice Encontrou Lá”.
A peça “Bonitinha, mas Ordinária” (1962), de Nelson Rodrigues, é “Otto Lara Resende, ou Bonitinha, mas Ordinária”. Ao ver aquilo, Otto implorou para que Nelson o mudasse: “Vão achar que a bonitinha mas ordinária sou eu!”. Mas Nelson não mudou e, segundo ele, Otto estava só fingindo protestar —gostou tanto que até se ofereceu para pagar o neon na fachada do teatro.