Veja-se!

“Biutiful” fala sobre a morte e o sofrimento. Javier Bardem em ótima atuação. Ele ganhou o prêmio de melhor ator em Cannes. Já haviam me falado que Biutiful, do mexicano Alejandro Gonzalez Iñárritu (Amores Perros, 21 gramas e Babel), era um ótimo filme, sensacional – inclusive, foi pré-indicado para melhor filme de língua estrangeira no Oscar e ganhou o prêmio de melhor ator em Cannes. Eu só não sabia que ele seria um murro na boca do meu estômago. Explico.

Biutiful é sobre a morte. Morte coletiva, solitária, por doença, velhice, acidente, assassinato…  Sobre a morte dos relacionamentos, o sofrimento de se sentir outsider em uma terra que não é sua e longe de quem se ama, ou daquele que tem qualquer tipo de sofrimento mental. Há a imagem de pessoas mortas, mas o filme também tem uma estética esquisita, de ambientes sujos, empoeirados, úmidos, melados. É tudo grudento, e um pouco repulsivo, sem ser escatológico.

Iñárritu, que não sei se é espírita, nos apresenta Uxbal – Javier Bardem, em excepcional atuação –, um homem que ajuda os mortos a morrerem em paz, como em Sexto sentido: quem morreu precisa confessar para se livrar de um peso e viver uma “outra” vida. Ele é, o que parece, recém divorciado e tem a guarda de dois filhos fofos – a ex-mulher, Marambra, é bipolar e promíscua. Uxbal trabalha com a morte, tira o sofrimento dos mortos, mas passa a lidar com tragédias próprias, todas ligadas… à morte.  Isso inclui um câncer de próstata em fase avançada, e a sua dor em ter que se despedir dessa vida, e dos filhos.

O que é a morte? Para onde ela leva? Quais são as palavras que aquele que se foi gostaria de ter dito? Isso alivia sua passagem? Existe essa passagem? Tais questionamentos vêm à mente até de pessoas céticas a desprovidas de crenças religiosas como eu.

Iñárritu junta todas essas questões, muito subjetivas, a elementos da vida em uma cidade grande, como Barcelona. E de uma maneira muito pragmática e natural, fazendo com que elas apareçam sem descambar para um roteiro de filme além-vida ou de temática espírita. Entram na trama o trabalho escravo, imigrantes ilegais chineses e senegaleses, a corrupção policial e a produção e comércio de produtos falsificados. O filme tem tantos elementos que transcorrer mais sobre o enredo seria perda de tempo.

Biutiful não é de chorar. É de arrepiar, de dar nó na garganta, de fazer o coração bater mais rápido, quase que numa taquicardia. O filme é como um soco no estômago: primeiro você sente a dor e fica sem ar, depois chora. Aconteceu assim, comigo. Talvez porque eu seja profundamente sensível à morte. Não que eu tenha medo dela, mas de quem ela possa me levar.

Laura Lopes

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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