Um dos maiores expoentes do cinema latino-americano, Pablo Trapero (“Do Outro lado da Lei” e “Família Rodante”) realiza em “Leonera” seu melhor trabalho. Dos créditos iniciais, embalados por uma divertida canção infantil, ao desfecho final, Trapero prende a atenção do espectador na saga de Julia (Martina Gusman, esposa do cineasta).
Julia é uma jovem da classe média argentina que acorda em seu apartamento rodeada pelos corpos ensangüentados de Ramiro e Nahuel. O primeiro sobrevive, mas o segundo não. Sem se lembrar precisamente do que aconteceu na noite anterior, ela é detida e processada judicialmente. Se não bastasse toda esta confusão, Julia se descobre grávida, sendo que o filho pode ser tanto de Ramiro quanto de Nahuel, apesar dela acreditar que é do último. Diante deste novo fato, Julia é encaminhada para uma unidade penitenciária onde estão mães e grávidas sentenciadas.
A partir daí acompanhamos a jornada de Julia em lidar com o cárcere e com a maternidade. De acordo com a legislação local, a mãe presa pode ficar com o filho até os quatro anos de idade, quando este é passado para um familiar ou aos cuidados do Estado.
Exibido na mostra competitiva do Festival de Cannes e na mostra Première Latina do Festival do Rio, “Leonera” é um filme sobre a descoberta da maternidade, mostrando como um filho indesejado pode ser tornar essencial para a vontade de uma mãe em continuar vivendo.
O longa se resume basicamente a um único nome: Martina Gusman. Em apenas seu segundo filme como atriz – o anterior foi “Nascidos e Criados”, também de Trapero –, Martina arrasa em “Leonera”. Os demais nomes do elenco também se destacam, mas em papéis diminuídos pela overdose de Martina. O brasileiro Rodrigo Santoro interpreta Ramiro e brilha em todos os (poucos) momento em que aparece no longa.
Produzido por Walter Salles (“Central do Brasil” e “Linha de Passe”), “Leonera” faz um tour pelo sistema carcerário argentino. Mas ao contrário dos brasileiros “Carandiru” e “O Prisioneiro da Grade de Ferro”, o filme não busca expor os maus tratos que ocorrem no presídio ou o abuso por parte de outras presidiárias. “Leonera” é apenas ambientado em uma instituição carcerária. Seu grande foco é como uma mãe pode ficar dependente de um filho que inicialmente rejeitou.
Lucas Salgado