Vejam só que festa de arromba

Um breve relato das comemorações na sede do PMPC

O Doutor Darth Vader dos Santos e o Pastor Herodes da Silveira acordaram cedo naquele domingo e rumaram para a sede do PMPC (Partido Macho Pra Caralho), que fica num antigo prédio no centro do Rio de Janeiro. Os dois líderes estavam empolgados com as mensagens do governo federal, estimulando o povo a comemorar o aniversário do movimento democrático de março de 1964.

Eles tinham combinado uma reunião com as principais lideranças do partido e alguns aliados políticos, para festejar a data em grande estilo. Quando chegaram na sede, já estavam lá os deputados Deletério Malandrini, Roubildo Ladravázio e Pastor Estelionelson, além dos senadores Fraudêncio Propinato e Ilícito Furtosa. E seus assessores já tinham providenciado o material para os festejos: champanhe, revólveres, rifles AR-15, vuvuzelas verde-e-amarelas e bandeiras brasileiras.

Mas o senador Fraudêncio Propinato reparou que estava faltando alguma coisa. “Temos que fazer uma chuva de papel picado!”, ele disse, e completou: “Tem um monte de Bíblias aqui…”

“Não! As Bíblias, não! De jeito nenhum!”, disse o Pastor Estelionelson. “Por que vocês não usam isso?”, e apontou para alguns exemplares da Constituição e da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Imediatamente, Ilícito Furtosa e Roubildo Ladravázio, os mais hábeis em trabalhos manuais, pegaram tesouras e começaram a cortar as páginas. Em pouco tempo, eles já tinham um monte de papel picado. Com o problema resolvido, foram todos para as janelas. Enquanto uns sopravam as vuvuzelas, outros davam tiros para o alto e agitavam bandeiras brasileiras. Ao mesmo tempo, alguns gritavam “Ustra Presente!”, e lançavam no ar os papéis picados.

Lá embaixo, na rua, dois cidadãos de bem sorriram ao ver a comemoração. Mas um deles se abaixou para pegar um pedaço de papel picado e falou, indignado: “Que absurdo! Esses idiotas estão emporcalhando a rua com essa merda! Você viu? Isso é um pedaço da Declaração Universal dos Direitos Humanos!”.

O outro pegou um pedaço de papel e disse: “É verdade, esses caras não têm noção. Eles deveriam utilizar um material melhor. Podiam ter usado uns livros do mestre Olavo“.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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