Não sei se você é sábio o suficiente pra saber que Minerva era a deusa da sabedoria. Sabe? Não? Não se preocupe, pois essa deusa também apelou pra inguinorança lá nos tempos em que as lendas eram vivas.
Minerva se achava e achou de desafiar Juno e Vênus num concurso de beleza. E foi justamente depois de um pilequinho na festa de casamento de Peleu com Tétis. Um festerê de dar água na boca de qualquer tubarão moderno. Só que, fácil ver por que, não convidaram Éris, a Discórdia. O rebolation comia solto, quando Éris jogou uma maçã de ouro pela janela. Nela estava escrito: Para a mais bela.
As três beldades — Juno, Vênus e Minerva — quase se atracaram no tapa. Júpiter, o deus-chefe, criou ali mesmo um novo ditado e lascou: Em briga de mulher com mulher, não se mete a colher. Lavou as mãos e mandou que as três fossem ao Monte Ida. Lá o belo pastor de ovelhas Páris seria o juiz. Claro que cada uma delas jogou todo charme pra cima do Páris. Juno prometeu poder e glória. Minerva, glória e fama nas guerras. Vênus foi a mais esperta: disse que casaria ele com a mais bela mulher do pedaço.
Páris, que era só um pastor, declinou das ofertas de fama, poder e glória. Escolheu o casório, já que ali no mato só tinha a companhia das ovelhas (nem pense nisso!) e da flauta (Idem!). Claro que as duas mulheres perdedoras se tornaram inimigas de Vênus hora.
Protegido por Vênus, pra encontrar a mulher prometida, Páris viajou pra Grécia. Lá é que morava o perigo! Ele foi bem recebido por Menelau, rei de Esparta. Só que você nem imagina que ele era casado com a mulher mais linda do mundo — Helena — né? Acho que esse o primeiro presente de grego, bem antes do cavalo de Tróia: oferecer a mulher do rei prum pastor!
Páris, na maciota, bem hospedado, começou a dar em cima da Helena. No papo manso e cheio de amor pra dar, ele convenceu Helena a se mandar dali pra Tróia. Menelau arregimentou soldados pra tirar Helena de Páris e aconteceu a Guerra de Tróia.
Os gregos convocaram Tzorvas, Seitaridis, Vyntra, Papadopoulos, Torosidis, Tziolis, Kastouranis, Karagounis, Samaras, Gekas e Charisteas. E mais alguns reservas: Ulisses, Aquiles, Sócrates, Aristóteles e Platão. Um time razoável, porém, retranqueiro.
O primeiro tempo virou sem abertura do placar. O time de Tróia se defendia com dez e atacava com vinte. Os comentaristas se esbaldavam dando palpites tanto pra um lado quanto pro outro. Se dependesse deles, o jogo terminaria empatado. Igualzinho fazem os comentaristas de hoje, na Copa da África.
Aí, pra desespero da torcida troiana, os gregos colocaram em campo um legítimo cavalão. Daqueles que só entram de sola com as quarenta travas das chuteiras bem afiadas. O cavalão ficou lá no meio do campo troiano e eles até acharam graça, pois ele nem se mexia. Parecia o meio-de-campo do Brasil. Só que, de noitão, o cavalo se abriu e saíram de dentro milhares de comentaristas de rádio, televisão e jornal que se puseram a discutir a partida com tantos e tão entusiásticos argumentos que os troianos ficaram bestas. Uns diziam que eles deviam atacar pelas pontas, outros pediam mais movimentação do meio-de-campo, outros reclamaram da arbitragem de Júpiter. Com aquele vuvuzelaço nos ouvidos, os troianos se renderam.
De tudo isso, o final é o mais chato. Menelau recuperou Helena e viveram felizes, Vênus virou planeta gelado, Éris foi pra Bagdá com a delegação dos Estados Unidos, a seleção grega derrotou a nigeriana, Juno e Minerva fizeram lipoaspiração, botóx, pelling, escova de ostras, maquilagem permanente e se mandaram pra Venezuela aprender a ganhar concurso de misses.
*Rui Werneck de Capistrano
é comentarista de mitologia brega e sinuquista de araque.